Especial LOTR - O Retorno do Rei

Escrito por Fábio Rockenbach

( Lord of the Rings - The Return of the King, EUA, 2003 )
Direção de Peter Jackson, com Elijah Wood, Ian McKellen, Viggo Mortensen, Sean Astin, Billy Boyd, Liv Tyler, John Rhys-Davies, Dominic Monaghan, Christopher Lee, Orlando Bloom, Bernard Hill, Miranda Otto, Brad Douriff, Andy Serkis



Enquanto Frodo e Sam adentram em Mordor rumo à Montanha da Perdição, Sauron prepara um ataque derradeiro à Gondor, o grande reino dos Homens. Aragorn, Legolas e Gimli partem para a Senda dos Mortos, buscando o auxílio de um exército que somente o rei de Gondor pode invocar, enquanto Gandalf organiza a defesa de Minas Tirith, esperando pelo socorro de Rohan.

Falar de “O Retorno do Rei”, conclusão da saga do Anel que marcou para sempre um ponto divisor no cinema fantástico é, de certa forma, mencionar superlativos. E, claro, sempre há aqueles que passam a desgostar de um filme exatamente por esses superlativos. Eles indicam, entretanto, que o filme foi êxito, e o público não é tão idiota. Há aqueles sucessos de bilheteria provocados pelo momento, mas que caem no esquecimento tempos depois ( Armageddon foi um sucesso de bilheteria estrondoso, e quem lembra do filme com carinho hoje? ). “O Retorno do Rei” foi um dos únicos três filmes a ultrapassar a barreira do bilhão de dólares em bilheteria, e perde apenas para “Titanic” entre as maiores bilheterias da história. É o maior vencedor da história do Oscar, com 11 estatuetas, ao lado do mesmo Titanic e de Ben Hur. E aos que desdenham de números ligados a bilheteria ou ao comercial Oscar, agüentem: é um triunfo do cinema espetáculo que apresenta o momento máximo da adaptação da mais cultuada obra literária da história. Um dos grandes momentos do cinema como espetáculo em 100 anos.

Jackson, percebe-se, consegue lidar melhor com as várias linhas narrativas, e ao longo da trilogia, elas foram ampliando-se. Aqui, ele consegue unir esses núcleos de forma extremamente satisfatória, sem quedas abruptas em momentos decisivos ou perdas de ritmo que pudessem incomodar o público, como aconteceu em “As Duas Torres”. As mudanças feitas pelo diretor não influenciaram na percepção da estória – apenas senti falta do destino de Saruman, o principal vilão visualizado pelo público nos filmes anteriores, erro que a versão Estendida corrigiu, apesar de que com mudanças. A ausência da seqüência do Expurgo do Condado, por mais que tenha irritado fãs, foi crucial: o final do filme já é longo, com praticamente 3 clímax diferentes, e a seqüência apenas alongaria ainda mais o final dessa estória.

É em “O Retorno do Rei” que todo o cuidado de Jackson com seus personagens, mesmo o secundários, transparece de forma absurda. A preparação citada anteriormente na crítica de “As Duas Torres” é o que possibilita a overdose de emoções que não se restringe aos personagens principais: a estória de Théoden e Eowyn emociona e envolve tanto quanto o drama de Frodo e Sam em Mordor ou a atitude de Aragorn de enfim lutar contra seus demônios e aceitar seu destino como Rei de Gondor. É em “O Retorno do Rei” que as mais de 6 horas anteriores se justificam – e não à toa, Jackson brincou dizendo que “fizemos os dois primeiros filmes para podermos, enfim, filmar “O Retorno do Rei”. È tarefa para poucos: os três filmes apresentaram mais de 100 personagens com falas e cerca de 20 retratados com substância e calma, algo difícil de se encontrar em um mero filme comercial. A agilidade com que o diretor conseguiu editar diversas estórias e fatos acontecendo simultaneamente é de se usar em qualquer aula de edição em cursos de cinema, como exemplo de como manter o fio da meada sem quebrar o ritmo ou descuidar do que, outrora, foi tão importante.

Em “O Retorno do Rei” o diretor abraça, finalmente, toda a mitologia que vinha preparando, fazendo uso inclusive de canções – algo que Tolkien usa e abusa ao longo de toda a narrativa. A seqüência em que Faramir e seus cavaleiros rumam para a morte enquanto Denethor se esbalda em um banquete é um notável exemplo: Pippin canta para o rei uma melodia triste e chora, não apenas por Faramir, mas pela fraqueza que ele enxerga no rei às sua frente, enquanto o monarca se suja com um suco vermelho que simboliza o sangue do próprio filho, sendo derramado em Osgilitah.


A Batalha nos Campos de Pellenor, que toma as telas e a atenção das platéias por longos 40 minutos, é o exemplo máximo a ser copiado e a servir de inspiração no que diz respeito a batalhas em uma tela de cinema. Ela reflete em 40 minutos tudo o que foi planejado, vivido e buscado pelos personagens. É a tour de force da jornada de todas as raças criadas por Tolkien e Jackson faz jus a todo esse significado: ela é insana, violenta, monumental em todas as proporções. Espelha o próprio épico que ele criou, e ainda consegue reunir nessa dezena de minutos momentos notáveis: a chegada dos cavaleiros de Rohan, a carga dos cavaleiros contra o exército de Orcs, o ataque dos Nazgul à Minas Tirith, o avanço dos Olifantes, a célebre luta entre Eowyn e o Nazgul, cantada em verso e prosa por amantes da saga ( e que ganha uma versão fílmica magnífica ), a invasão da grande cidade, e um momento que nunca deveria ter sido removido das versão para os cinemas: o encontro entre Gandalf e o rei Bruxo de Angmar, líder dos Nazgul. É um momento precioso, onde Gandalf é derrotado pelo Nazgul e salvo da morte pela chegada de Rohan a Pelennor- e justifica uma frase que ficou na versão original, onde ele diz ao líder dos Orcs que “cuidará do mago branco”, algo que nunca acontece na versão dos cinemas. Já a seqüência com o "Boca de Sauron" em frente ao Portão Negro, se não é essencial, aprofunda e explica o sentimento de entrega e sacrifício feito por Aragorn e o restante da comitiva quando se dispõem a enfrentar Sauron.

Jackson, todos sabem, é um cineasta inquieto com sua câmera. Gosta de movimentá-la, e isso confere agilidade e grandiosidade aos longos planos que atestam a magnitude da recriação feita pela WETA de tudo o que Tolkien imaginou como sendo a Terra Média. Gimli permanece como o alívio cômico, mas desta vez Jackson soube dosar melhor essa intervenção humorística. A partir de determinado momento, quando as cicatrizes da batalha em Helm’s Deep começam a cicatrizar, ele encara a tarefa de terminar a estória com seriedade. Transparece isso ao mostrar a transfiguração de Frodo – pode-se sentir o peso do fardo que ele carrega, apenas mencionado no primeiro filme e exercitado no segundo, a partir da seqüência dos Pântanos Mortos. Se é o núcleo que menos empolga ao público, a jornada de Frodo e Sam é a essência de tudo o que acontece na trilogia. E ela se justifica em uma cena emocionante: quando Sam diz que não pode carregar o anel, mas pode carregar Frodo. É o resumo do sentimento de abnegação e fidelidade do escudeiro com seu mestre. Sam é, para todos os efeitos, e numa opinião muito particular, o grande herói de saga do Anel. Tolkien reconhece isso, e deixa que ele encerre essa estória, apropriadamente.


A trilha sonora, mantendo a característica das anteriores, continua criando temas únicos para cada filme sem esquecer dos anteriores. Assim, na primeira parte de O Retorno do Rei, temas conhecidos de As Duas Torres continuam ecoando nos ouvidos, principalmente o tema dos cavaleiros de Rohan ( que aparecerá de forma derradeira momentos antes da batalha nos campos de Pelennor).

Existem pequenos deslizes, mas a maior parte deles está no fato de as exigências comerciais forçarem cortes na versão para os cinemas que Jackson, sabidamente, gostaria de não ter feito. Arwen, que era apenas um contraponto romântico à saga, praticamente desaparece neste terceiro filme, justificando sua aparição apenas para pedir ao pai que forje Anduril novamente e a leve a Aragorn. O plot romântico entre Faramir e Eowyn soa artificial na versão estendida - talvez seja o único momento em toda a saga que isso aconteça. E Jackson deixa claro como foi difícil, para ele, encerrar a estória com a qual se identificou tanto durane sete anos. O grande público não entende essa demora em terminar tudo após um clímax eletrizante. Jackson reserva esse direito aos fãs: a seqüência dos Portos Cinzentos é uma das mais belas do cinema, e apresenta também o ponto alto da trilha de Howard Shore. É difícil não se emocionar, mesmo sabendo que Jackson induz essa emoção – e faz isso também para ele, como fã.

Exemplo máximo do cinema como reprodutor de sonhos e mundos impossíveis de existirem, “O Retorno do Rei” é um produto atípico: foi concebido como uma homenagem a uma obra tida como impossível de ser adaptada. Hoje, não é difícil imaginar o filme como um exemplar do cinema fantástico difícil de, um dia, ser batido, porque não se resume à excelência técnica: foi feito a partir de uma estória que, também ela, dificilmente será igualada. As imitações e tentativas que vieram depois exemplificam isso. “O Senhor dos Anéis” é mais do que uma página na história do cinema: ganhou um capítulo só seu, não importa o quanto seus detratores protestem. “Algumas feridas nunca saram”. Para velhos e novos fãs, a saga dos povos da terra média e dos homens do leste contra Sauron é programa para, no mínimo, uma nova visita anual. Longa vida aos DVDs, que propiciam essa passagem de volta no momento em que bem entendermos.

Vídeos

Gandalf enfrenta o Rei-Bruxo de Angmar em Minas Tirith


A Carga dos Rohirrim nos Campos de Pelennor


Eowyn encara o Rei Bruxo


Pippin canta para Denethor enquanto Faramir ruma para a morte


Sam carrega Frodo na Montanha da Perdição


Os Portos Cinzentos



2 Comentários:

  1. Isabela disse...

    Tem ainda o que comentar? Fazer continuação é dificil, sempre se perde a magia, mas parece que no caso de LOTR guardaram o melhor para o final. O melhor roteiro, uma direção perfeita, e as atuações de arrancar o folego.

  2. o retorno do rei disse...

    Tem ainda o que comentar? Fazer continuação é dificil, sempre se perde a magia, mas parece que no caso de LOTR guardaram o melhor para o final. O melhor roteiro, uma direção perfeita, e as atuações de arrancar o folego