Band of Brothers

Escrito por Fábio Rockenbach

( Band of Brothers - EUA - 2001)
Com Damian Lewis, Donnie Whalberg, Ron Livingston, Matthew Settle, Rick Warden


“Band of Brothers” é uma obra que, ironicamente, deve sua qualidade extraordinária ao fato de ter sido produzida para televisão. A ironia, no caso, está no fato de que é produto de televisão concebido com linguagem de cinema, mas se fosse feito para cinema, não alcançaria os atributos que alcançou. Seria impossível condensar as dez horas da minisérie em um longa para o cinema. E perderia seu sentido.Em palavras simples, a minisérie produzida por Steven Spielberg e Tom Hanks, nascida a reboque da experiência de ambos em “O Resgate do Soldado Ryan” é simplesmente a melhor coisa que já foi feita para a televisão. Baseado no best-seller homônimo de Stephen Ambrose, sepultou de vez qualquer chance de se (re)ver qualquer filme sobre a segunda guerra mundial sem considerar ( qualquer um deles ) como fantasioso. Não pense que, por isso, obras como “A Ponte do rio Kwai”, “Uma Ponte Longe Demais”, “Inferno 17”, “Fugindo do Inferno” e “Os Doze Condenados”, só para citar alguns, tenham perdido alguns de seus atributos. Simplesmente, tornaram-se filmes AMBIENTADOS durante a Segunda Guerra mundial, mas que empalidecem no quesito realismo. Desde “O Resgate do Soldado Ryan” essa já era uma constatação. “Band of Brothers” transformou-a em “definição”.

Dividido em 10 episódios, o controle de Spielberg sobre a produção pode ser resumida no fato de que todos os episódios tiveram um diretor diferente, mas foram operários. Isso se constata ao perceber que a homogeneidade entre eles é tanta que todos eles seguiram um padrão pré-definido. Band of Brothers pertence a Spielberg, ou pelo menos ao que ele convencionou mostrar como sendo o realismo nos campos da batalha da Europa na primeira metade da década de 40. ( Tom Hanks co-dirigiu os episódios 2 e 3 )Narrando a história dos soldados da Companhia Easy, 506º Regimento da 101ª Divisão de Para-quedistas do exército americano ( criada para a guerra na Europa ), a minisérie une histórias e dramas pessoais ao ambiente em que esses soldados amadurecem de forma abrupta e crua. Do treinamento à tensão antes do embarque, das primeiras ações em solo europeu ao frio massacrante e, por fim, até a tomada do Ninho da Águia, a “casa de campo” de Hitler na Áustria no final da guerra. O mais surpreendente é que a história é real – os sobreviventes, todos personagens da minisérie, aparecem em depoimentos emocionantes antes de cada episódio. Não cabe sequer a afirmativa de que os fatos mostrados na tela pequena – e como seria fabuloso em uma tela grande numa sala escura – são frutos do típico costume do cinemão americano de enfeitar as narrativas. “Band of Brothers” não se rende a momentos de heroísmo ufanista – e nem mesmo alguns erros históricos relacionados a datas ou alguns episódios isolados empalidecem a obra. Ela mostra de forma crua o impacto da guerra ao levar, episódio a episódio, o público a acompanhar a mudança nos semblantes e nas ações dos soldados que, pouco a pouco, tornam-se tão familiares.

Não pense, também, que a produção rende-se ao chavão das miniséries de transformar uma história numa colcha de retalhes de dramas pessoais: elas apenas emolduram e casam perfeitamente com a narrativa histórica do que aconteceu na Europa. E faz isso com um realismo que é quase um tapa na cara a quem está acostumado a ver a guerra com romantismo: nem em “O Resgate do Soldado Ryan” os combates foram tão reais, secos, dolorosos. E é justamente por mostrar essa realidade sem se deixar levar por maniqueísmos emotivos – o que seria de se esperar de Spielberg – que a emoção que surge ao fim da jornada revela-se tão autêntica: ela é fruto da real identificação que o elenco homogêneo consegue passar de uma história tão real e dramática. Vale cada centavo investido na compra do Box completo, e cada minuto gasto na maratona exigida para acompanhar essa saga.

Detalhe extra: a trilha sonora de Michael Kamen vale o investimento: é perfeita.

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