Durante as três décadas em que Brigitte Bardot esteve no auge de sua beleza e popularidade, ela foi chamada de “a Marilyn Monroe francesa”. Era para ser um elogio, mas mesmo que Bardot não se destacasse pelos dotes intelectuais (“Nossa, adorei a revolução de vocês!!!"disse ela, quando esteve no Brasil em 1964 ) assim como Marilyn, o aspecto sensual e estético entre ela e Norma Jean eram muito diferentes. Marilyn, ícone americano da sensualidade, foi fabricada. Posava para fotos tentando exalar sensualidade por caras e bocas. Bardot nunca precisou disso. Um simples olhar para a câmera era capaz de acordar o mais adormecido instinto primário até mesmo de um idoso. Bardot era espontânea, lábios carnudos, grandes olhos que pareciam enxergar a alma.
Não tenho intenção de desfilar, aqui, uma biografia de Bardot. Foi o símbolo da beleza na França dos anos 50 e 60 e retirou-se do cinema na década de 70. Preferiu deixar de lado o glamour das telas – e todos seus problemas – para se dedicar à causa dos animais. E foi somente assim que ela tem sido vista ou debatida nos últimos 30 anos – além, é claro, da presença eterna nas telas. Pouco antes de se retirar, confessou que jamais sentira prazer em ser atriz: a carreira nas telas seria um reflexo de uma vida artística que começou desde cedo, influenciada pela mãe.
Mas a Brigitte Bardot que simboliza a França tornou-se, também, uma vergonha. Não consegue controlar um profundo ódio pelo Islã. Já criticava abertamente o costume árabe de matar cachorros – conseguiu que em vários lugares se adotasse o hábito da castração para evitar o aumento da população animal, em vez da morte. Desde 1997, já foi multada quatro vezes por incitar ao ódio racial. A primeira multa foi de 1.500 euros. Mais recentemente pagou 5.000 euros. Agora, o Ministério Público francês pediu uma pena mais dura: dois meses de prisão com pena suspensa e pagamento de 15 mil euros. O MP estaria “cansado de processar Bardot”. Os 5 milhões de habitantes muçulmanos da França originaram o comentário racista de Bardot. “Estou farta de ser dominada por esta população que nos está a destruir, a destruir o nosso país e impor as suas crenças.”
Também choca, nessa história, perceber como o tempo, além de ampliar as visões racistas de Bardot, também aproveita para deixar a fantasia e colocar os pés na realidade. Ver Brigitte Bardot nas telas em filmes de 4 décadas atrás alimenta a permanência de um mito de beleza eterna que se dissolve em segundos quando a mulher, aos 73 anos, mostra-se em público, enfrentando a inevitável e injusta comparação. O tempo é cruel, não respeita nomes, posição social ou fama, não importa o quanto se invista para tentar manter a juventude. Se compararmos Brigitte com Sophia Loren, sua contemporânea, podemos dizer que ele foi ainda mais cruel. As rugas no rosto de Bardot são um tapa na cara da imagem que ficou parada no tempo. Se o ex-marido Roger Vadim usou Bardot como símbolo máximo da beleza em “E Deus Criou a Mulher”, a cada dia, lentamente, surge a certeza de que, muito antes, Deus inventou o tempo. E este não perdoa.
Melhor reverenciar a femme fatale francesa no auge de sua saúde e de sua ingenuidade.
Indiscreto (1958)
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Indiscreto é uma comédia romântica marcada por reencontros e regressos.
Antes de mais pelo reencontro de Cary Grant com o realizador Stanley Donen,
com que...
Grande Fábio! Ficou lindão o novo blog, hehe. Cara, tô te adicionando lá no Multiplot!. Abraço!