The Great Debaters

Escrito por Fábio Rockenbach

(EUA, 2007 )
Direção de Denzel Washinton, com Washington, Nate Parker, Denzel Whitaker, Forest Whitaker, Jurnee Smollett, Gina Ravera.


Denzel Washington não é um estranho ao estilo de filme que escolheu dirigir na sua segunda investida como diretor. Ele próprio já interpretou um deles, em "Remember the Titans", baseado na história real de um time de futebol americano que mistura negros e brancos em plenos anos 60 nos Estados Unidos. E se não demonstra o ativismo anti-racial de Spike Lee, com quem também já trabalhou, dá mais mostras de que, como diretor, pretende ser, antes de tudo, negro. Com orgulho.
"The Great Debaters" usa de artifícios batidos num plano geral, mas nas entrelinhas, renova a água da fonte em que bebe. Não apenas pelo tema: ele troca, sim, o esporte tão utilizado nesse estilo de filme pela palavra, mas mostra que pode haver uma marca pessoal de quem dirige esses filmes. Nesse quesito, o astro negro também prova que aprendeu muito trabalhando com tanta gente boa atrás das câmeras.

Washington é Melvin Tolson, professor de uma universidade para negros, a Wiley College, no texas, em 1935. Inquieto, provocador e extremamente inteligente, Tolson também é um ativista dos direitos dos negros por baixo dos panos - o que, na América, já nos anos 30, significava ser taxado de comunista, Em uma sociedade que ainda guardava - e guarda - características escravocratas, era um duplo pecado. Também era o responsável pela equipe de debates do Wiley, formada por estudantes selecionados por ele para particiar de debates com outras universidades do estado, acerca de um tema previamente estabelecido. É nesse campo de jogo, cadeiras, palcos, livros e palavras, que Washington desfila sua história moral enriquecedora. Como em todo filme do gênero, haverão desafios entre as universidades que servem de aprendizado aos jovens membros de sua equipe: o revoltado e inteligente Henry Lowe ( Nate Parker, uma revelação furiosa ), a inquieta Samantha Booke ( Jurnee Smollet, a mais fraca do elenco principal ), o veterano Hamilton ( Jermaine Williams ) e o jovem prodígio James Farmer Jr., de apenas 14 anos - ( Denzel Whitaker, nome em alta nos EUA, perfeito como o filho de Forest Whitaker, inclusive fisicamente. )
A trajetória desses personagens faz parte dos livros de história. Eles enfrentaram a toda poderosa equipe de Harvard em um debate transmitido nacionalmente. Por mudar dos gramados e quadras para os livros, Washington tem o combustível que buscava na história real para, ao longo das mais de duas horas de projeção, moldar com calma cada um de seus personagens, principalmente o jovem Farmer. Não é um filme genial. Trata de um tema espinhoso, já que é através das palavras e do discurso que ele precisa conquistar seu espectador, o que nem sempre é fácil. Talvez até por isso, ele não emocione, mas captura seu espectador pelos méritos do diretor Denzel - claro, o ator também está ótimo no filme, mas o Denzel que vemos aqui atuando não difere muito do Denzel de outros filmes, o que não é novidade. Não é através de seu Melvin Tolson o fio condutor, mas da relação entre Farmer e Lowe, um improvável triângulo amoroso e intelectual com Samantha.
O dedo de Denzel como diretor surge em uma das mais tensas cenas do ano - desconte as cenas que verá em "Onde os Fracos Não têm Vez", essas são "hors concours" - quando o professor e seus alunos, perdidos de carro no meio da noite, dão de cara com um negro queimado vivo e enforcado por um grupo de brancos. A cena não é longa, dura alguns minutos apenas, mas reúne nesses poucos minutos mais tensão do que muitos filmes de suspense gostariam de conseguir em duas horas. Um ensaio igualmente bem sucedido já acontece meio filme antes, em uma cena onde um porco é atropelado. Dizer mais não é preciso, basta assistir. Ponto para o diretor, já que essa pequena cena se tornará crucial para seus personagens.

E quando surge o grande debate com Harvard, o tema envolvendo moral e desobediência civil é um prato cheio para encerrar o pequeno livro que foi sendo escrito ao longo do filme. Pena que, nessa trajetória, o discurso dos personagens nos debates soe mais como lição de civismo, apesar de toda a força da interpretação de Parker em seu revoltado Lowe( mesmo a fala final do debate, apesar de retratar indignação, não passa a noção efetiva de ação depois do filme inteiro ). Talvez Washington e o roteirista Robert Eisele quisessem mostrar como se formaram as mentes desses personagens reais, mas em tese, o filme é centrado na importância do debate que ocorreu. Os personagens, após o debate, transformaram o que pregavam em ação concreta, mas não devíamos sentir melhor isso nas duas horas de projeção?
De qualquer forma, as indicações ao Globo de Ouro reascenderam o interesse do filme merecidamente nos Estados Unidos e ele fez bela carreira na telona. Talvez porque, simplesmente, Denzel Washington conte uma bela história com talento.

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