(JFK, EUA, 1991 )
Direção de Oliver Stone, com Kevin Costner, Tommy Lee Jones, Gary Oldman, Joe Pesci, Jack Lemmon, Walter Matthau, Donald Sutherland, John candy, Sissy Spacek, Kevin Bacon, Martin Sheen, Michael Rooker
Oliver Stone tinha uma necessidade urgente quando decidiu levar em frente a idéia de reconstituir o assassinato de John Kennedy para expor sua teoria sobre a conspiração que envolveu refugiados cubanos, a CIA e membros do próprio governo americano na morte de JFK: ele precisava de um James Stewart.
Explica-se: na primeira metade do século, James Stewart era o rosto do ideal americano, o tipo de ator que jamais marcou sua passagem nas telas defendendo um vilão ou alguém controverso. As comédias de Frank Capra o tornaram o exemplo máximo do cidadão ideal. Alguém em quem você podia confiar. Alguém que você sabia que dizia a verdade.
Era de um ator que passasse essa imagem que Stone precisava para dar veracidade a JFK, afinal, ele pretendia convidar o público a passar três horas seguindo a investigação do promotor de New Orleans Jim Garrison, que decidiu, anos depois, reabrir o caso do assassinato do presidente americano em Dallas, em 1963, defendendo a teoria de uma conspiração, de mais de um atirador e apontando as absurdas falhas da comissão Warren, que investigou o caso e culpou unicamente Lee Harvey Oswald pela morte de Kennedy. Stone chegou em Kevin Costner após ter ouvido respostas negativas de Harrison Ford e Mel Gibson. Ford, notoriamente, por não querer atrair a discussão política que o filme iria atrair – e atraiu.
A Entertainment Weekly o elegeu o 5º filme mais controverso de todos os tempos. Bobagem. O tema é caro aos americanos, mas não abre nenhuma ferida polêmica. A teoria da conspiração é defendida por muita gente. Fosse tão controverso, a academia não o indicaria a oito oscars em 1992, incluindo filme e diretor. Levou dois, fotografia e montagem. E, diga-se de passagem, é a montagem o grande astro de JFK – A Pergunta que não quer calar.
Tendo Costner à frente – e Costner significava Elliot Ness, e Costner era o bom moço da época no cinema americano, e Costner, por fim, era o ator que rompeu barreiras para, dois anos antes, tomar conta do Oscar com Dança com Lobos – Stone cercou seu astro com um elenco de primeira classe, distribuiu-os em papéis secundários – Jack Lemon e Walter Matthau fazem dois papéis sérios, e surpreendem – e simplesmente parece ter passado suas neurosas para o elenco. Tudo, absolutamente tudo em “JFK” é uma acusação. Ou melhor várias. O filme em si é um filho muito particular de Stone, onde ele alterna cenas e fotos reais com uma meticulosa e assombrosa reconstituição de época para desfilar suas teorias, endossadas pelos livros Crossfire: The Plot That Killed Kennedy, de Jim Marrs, e On the Trail of the Assasins, de Jim Garrison. Os 24 pesquisadores que auxiliaram no filme não fariam muita diferença se fossem apenas 2: Stone filmou “JFK” para ser extremamente parcial. Se consegue capturar a indignação do público com algumas atrocidades da investigação, também transforma seu filme em uma espécie de “jornalismo literário” das telas: recria cenas, diálogos e situações que ninguém sabe como ocorreram, muitas vezes baseado em depoimentos extremamente controversos de testemunhas. Mas na soma geral, ainda que neurótico no todo, “JFK” traz mais inquietações do que invenções. Se o objetivo de Stone era deixar público seu inconformismo, conseguiu com sobras.
Mais famoso por suas incursões ao mundo que vivenciou na guerra do Vietnam (Platoon, Nascido em 4 de Julho), Stone entrega, possivelmente, seu filme mais bem acabado tecnicamente. Ainda que pomposa em excesso, exalando um certo americanismo ufanista em seus acordes, a música de John Williams funciona muito bem, especialmente nas cenas de reconstituição dos fatos que aconteceram em Dallas, em 63. A fotografia de Robert Richardson consegue unir-se à reconstituição de época, cortesia de Victor Kempster, para construir um cilme de anos 60 baseado na iluminação de fotos e filmes da época. Mesmo em cores, a iluminação parece granulada, mal definida, mas extremamente bem feita. E finalmente, a montagem de Joe Hutshing e Pietro Scalia é a alma, o cérebro e o coração de JFK: sem ela, a narrativa repleta de informações ao longo das 3 horas se tornaria extremamente chata, mesmo conduzida por grandes atores – e Costner nem sempre convence como Garrison, principalmente nas cenas em que demonstra inconformismo e frustração, ao contrário de Oldman, o grande nome do filme como Oswald. Alternando imagens rápidas, cenas de arquivo, fotografias, efeitos, cores e cinzas para seguirem no ritmo certo o roteiro, os dois conferem a autenticidade, mesmo perigosa e por vezes manipulada, que é o centro de “JFK”.
Por ser um filme longo, fruto da vontade de Stone em destilar o maior número possível de acusações e fatos – acreditem, a versão do diretor tem 70 minutos a mais, completando 260 de duração - e repleto de informações, tem sido esquecido. Quando não por isso, é acusado de ser “muito americano”. Pena que essas idéias acabam empalidecendo a grande vitória técnica e narrativa que sustenta o filme, que no fim sobreviverão mais ao tempo do que qualquer sentimento ufanista que o tenha motivado.
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