Claudia, Morricone e a Estação

Escrito por Fábio Rockenbach


Assisti neste final de semana "Morricone por Morricone", concerto em que o mestre italiano rege a Orquestra Filarmônica de Berlim. Bom demais. Muita coisa boa ficou de fora, como outros westerns dos anos 60 da trilogia com Sergio Leone (apenas Três Homens em Conflito, o tema mais famoso, foi executado). Em contrapartida, Cinema Paradiso, A Missão, Era uma Vez na América, Os Intocáveis, e Era uma vez no Oeste. Quando ouvi essa última música, não pude deixar de lembrar de dois filmes. É, dois...
A primeira cena que vem à mente é a clássica cena da chegada do Trem à Estação, quando a recém viúva Cláudia Cardinale desembarca na cidade. Toda a história gira em torno da disputa por terras - as dela estão no caminho de uma ferrovia em construção - e da busca por vingança, no caso do personagem de Charles Bronson que busca o vilão interpretado por Henry Fonda.
Não acho, pessoalmente, que seja um filme fácil de assistir como foram os outros westerns de Leone - principalmente a famosa trilogia dos dólares com Clint Eastwood: Por um Punhado de Dólares ( o melhor para mim ), Por Uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito. Mas, inegavelmente, "Era uma vez no Oeste" é o mais clássico deles e o mais valorizado. A história é contada de forma lenta, closes tomam a tela, a trilha sonora é majestosa e o elenco é grandioso. Os personagens são marcantes - o vilão de negro de Fonda é uma homenagem a outros vilões do western, principalmente o de "Shane - Os Brutos Também Amam", mas supera a todos eles: nesse caso, o ator faz toda a diferença e a câmera de Leone só valoriza esse "pequeno" detalhe com os closes.




A cena inicial, com os três bandidos aguardando o trem onde o "homem da harmônica"( personagem de Bronson ) está chegando, é clássica, mas é na chegada do trem á cidade que está minha preferida. Vemos apenas Cláudia descendo do trem, aguardando que a venham buscar. Ninguém aparece. Ela olha para o relógio e a música de Morricone começa a tocar, lentamente. Desse ponto em diante, é uma tomada apenas, sem cortes, com a câmeras mvendo-se com ela: ela se dirige à estação, entra nela, pede informações e, por fim, sai em direção à cidade. A chegada do progresso - o tema da ferrovia e da própria cidade nascendo no oeste - é também abordada por Leone, numa época em que o próprio gênero agonizava. A câmera não entra com ela na estação. Prefere acompanhá-la de fora, e quando ela ruma para a cidade, sobe, passa por cima do telhado da estação e enfim vislumbra a cidade - uma cena sempre emoldurada pela trilha sonora do mestre Morricone.
Falei que dois filmes vêm á mente quando ouço essa música. Explico: Robert Zemeckis fez uma homenagem a essa cena em particular em De Volta para o Futuro 3, na cena em que Marty McFly chega à cidade. É a mesma cena, o mesmo movimento da câmera passando por cima do telhado e descortinando a cidade. A homenagem é tão bonita e bem feita que sempre ligo uma à outra - mas nada substitui a original, claro.

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