"Quando a lenda for mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda"
Aproveitando a onda do pessoal do Multiplot, que tem publicado um especial sobre um dos mais fundamentais gêneros da história do cinema - e injustamente desvalorizado por muitos - é oportuno linkar a idéia e relembrar um pouco de um estilo de filme que retrata uma época que, praticamente, terminou quando o cinema nasceu.
Não seria exagero, também, afirmar que toda a mitologia do western - aquela que ficou no imaginário popular - foi construída por dois homens. Hawks, Mann, Leone, Peckinpah, Stevens e outros passaram por ele e fizeram suas próprias leituras, mas no imaginário popular, western se resume a índios e cowboys, diligências atravessando o Monument Valley, um rosto, e um diretor...
A frase famosa que abre o texto foi entoada pelo personagem de Edmond O'Brien no clássico "The Man Who Shot Liberty Valance" ( O Homem que Matou o Fascínora ) de 1962, e tornou-se símbolo da própria carreira do diretor do filme, John Ford. Nesse caso, a lenda diz respeito ao mais americano cineasta da história do cinema - um homem de posições fortes, às vezes corajosas, mas sempre certo de suas idéias. O próprio nome John Ford já traz consigo a lembrança do cinema americano das décadas de 30,40,50 e 60 - e realizações de um homem que guarda o recorde de ter sido o único diretor da história a ganhar 04 Oscars de direção.
Mas todo esse espírito seria inútil se Ford nãoencontrasse um nome à altura para traduzi-lo em palavras e interpretação à frente das câmeras - afinal, o irlandês temperamental até experimentou a carreira de ator, mas não admitiria voltar para a frente das câmeras. Ford acabaria encontrando seu alter-ego na figura igualmente mítica de John Wayne - o herói americano por excelência, representante máximo do desbravador durão, corajoso, bom de briga e que esconde por trás da carrapaça o senso de lealdade, dever e respeito às mulheres que ama sem querer demonstrar. Foi o arquétipo básico do homem que representa sozinho o próprio gênero onde sua parceria com John Ford rendeu os maiores dividendos para o cinema mundial - o western, reconhecidamente, pasmem, o mais americano dos gêneros.
Para Ford a prova de suas convicções foi exercida em mais de quatro décadas de cinema, sempre insistindo em tirar de suas filmes as mínimas concessões à vulgaridade ou à baixesa. A miopia que o fazia insistir na idéia de que os grandes vilões da expansão americana para o oeste foram os índios é perdoada quando se analisa seus filmes e se mostra que os bons costumes e a tradição sempre superam qualquer adversidade. Ford, além dos bons costumes, prezava seu conservadorismo. A mulher, no ambiente árido do oeste, é tratada como um ser frágil com obrigações estritamente domésticas - cabe ao homem, duro e capaz de responder ao ambiente hostil - a tarefa de comandar. Mas ele faz sua concessão: deixa claro que nessa ambiente rústica eram as mulheres que passavam a sabedoria, afinal, eram as únicas que sabiam ler e escrever. Raros foram os filmes em que essa idéia não esteve presente, e quando houveram, foi na forma de comédia que o diretor soube passá-la - vide o clássico "Depois do Vendaval".
A parceria com John Wayne só não foi absoluta porque, ao lado de James Stewart e Henry Fonda, Ford criou outros grandes clássicos. Fonda atuou com o diretor em "As Vinhas da Ira" e "Paixão dos Fortes" enquanto Stewart teve a chance de atuar até mesmo com Wayne em "O Homem que Matou o Fascínora", para citar os mais conhecidos. Mas foi com Wayne que o diretor construiu a mitologia do western americano - sua parceria com ele pode ser considerada a precursora de outras posteriores, como a de DeNiro e Scorsese. Foi através de Wayne que ele encontrava a válvula de escape ideal para sua idealização do herói americano. Combiná-lo com a paisagem desértica do Monumment Valley davam-lhe satisfação - e durão por durão, Wayne era um dos atores qye suportavam o diretor que não admitia que os atores fizessem sugestões. Suas idéias eram absolutas.
Essa relação entre dois mitos pode ser melhor entendida quando se deixa claro que as imagens de ambos, ator e diretor, estavam indissociavelmente marcadas por estereótipos. No caso de Ford, era a de um cinema essencialmente direcionado pela figura masculina - e daí para fazer do western seu gênero mais marcante é um passo. Já Wayne tornou-se mais do que um ator ou um homem, uma figura símbolo. Alex Podgorny, em sua biografia do astro, colocou melhor a situação: " John Wayne, um das estrelas maiores do cinema, também é um dos problemas maiores do cinema. Sua imagem como um ícone de individualismo americano e o espírito de fronteira obscureceu sua carreira de tal forma que é quase impossível para espectadores e escritores separarem a lenda de Wayne, o ator de Wayne, o homem ".
Poucos conseguem perceber que essa imagem mítica do ator se configura nos tipos criados por ele -mas a imagem de sujeito durão e decidido era na verdade um esquema que ele criou para compensar uma falta de talento interpretativo, mas durante os anos ele acabou apoiando-se no estratagema criado - e encaixou como uma luva para o que John Ford queria em seus filmes. Quando, em 1956, os dois rodaram juntos "Rastros de Ódio", o ator já estava preparado por anos de ensaio para encarnar o solitário, mau humorado, amargurado e vingativo Ethan Edwards.
A carreira de ambos passeou lado a lado com o western durante praticamente duas décadas. Nesse ínterim, Ford alternou-se em outros gêneros, ganhando seus quatro Oscars por "O Delator", "As Vinhas da Ira", "Como Era Verde Meu Vale" e "Depois do Vendaval", enquanto Wayne permaneceu praticamente fiel ao gênero que o criou. Quando, nos anos 60, eles perceberam que o western decaía, Ford começou a parar. Wayne encontrou nos filmes de guerra, como "Os Boinas Verdes", uma saída para continuar interpretando seus tipos durões. Os dois, porém, ficariam eternizados em uma parceria memorável, que deixou para o cinema filmes como "No Tempo das Diligências", "Forte Apache", "Sangue de Heróis" e "Rastros de Ódio", entre tantos que construíram no western. Dois mitos americanos eternizando um gênero americano.
Indiscreto (1958)
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Indiscreto é uma comédia romântica marcada por reencontros e regressos.
Antes de mais pelo reencontro de Cary Grant com o realizador Stanley Donen,
com que...
Eu gosto dos quadradinhos do Wordpress, logo suspeito, mas gostei sim do blog novo. E os textos continuam ótimo que é mais importante.
Valeu Faéu. Ainda estou me adaptando, talvez troque o fundo escuro por algo mais fácil de ler, mas o blogspot tem lá suas vantagens.
Abraço
OS: Belo blog. Vou dar uma olhada nele à tarde.