O Procurado

Escrito por Fábio Rockenbach

( Wanted, EUA, 2008 )
Direção de Timur Bekmambetov, com James McAvoy, Morgan Freeman, Angelina Jolie, Terence Stamp, Thomas Kretschmann


Logo nas primeiras cenas de “O Procurado”, o Wesley Gibson de James McAvoy pergunta a si mesmo o que o pai que ele nunca conheceu pensaria se soubesse que seu filho se tornou o ser mais insignificante da face da terra. É a deixa para mostrar que o “herói” do filme de Timur Bekmambetov é um ser que passará por um aprendizado radical. Nem seria preciso saber mais da estória, baseada nas HQs de Mark Millar e J.G. Jones. O que não entendo é porque os mesmos Millar e Jones não participaram ativamente da roteirização do filme. Poderiam ajudar a compor melhor toda essa transformação, por conhecerem sua cria, e definir qual é afinal o objetivo do filme: mergulhar fundo no terreno do irreal, ou manter os pés na realidade e criar um misto ( a segunda opção é sempre mais perigosa ).

“O Procurado”, encarado por alguns como um “Matrix com mais humor” não tenta, em nenhum momento, jogar uma luz no seu espectador. Mostra uma irmandade de assassinos de séculos de existência dotados de poderes especiais, mas nunca tenta mostrar a origem de tudo isso, ou como eles têm essa habilidade. Nosso “herói” apenas pode fazer o que faz porque tem isso no sangue, seu pai era um membro da irmandade que foi assassinado por um desertor, que agora caça o filho. A ordem da vez é iniciar o aprendizado de Wesley e torná-lo a réplica dos talentos do seu pai, o único que poderia derrotar o desertor.

Sempre achei que o espectador do cinema deveria merecer o mínimo de respeito, e a resposta a uma pergunta simples: qual o sentido dessa estória existir, além de propiciar tiros , efeitos mirabolantes e seqüências que ninguém em sã consciência aceitaria? Matrix tinha um sentido de existir mais amplo, que justificava toda aquela realidade. “O Procurado” deixa um pé no fantástico e ancora-se na realidade, e assim sente essa ausência de uma definição de sentido– ou não fez força para jogar o público nessa luz explicativa, o que não posso afirmar porque não conheço as HQs. Julgo apenas o filme. E o filme, por mais que tenha bons momentos de humor e ação, fica na lembrança mais pelas cenas inverossímeis – e pela falta de quadril (literalmente) de Angelina Jolie – do que por qualquer apelo maior que buscasse. O que, convenhamos, não é o que se poderia esperar de um filme de respeito.

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