MALDIÇÃO

Escrito por Fábio Rockenbach



Difícil entender porque algumas distribuidoras simplesmente não fazem juz ao título original e decidem inventar novos títulos para vender um filme no mercado brasileiro, ignorando tudo a respeito da produção. "An American Hauting" (Uma Assombração Americana) foi vendido no Brasil com o deprimente título de "Maldição" (?!?!?!) dando claras mostras de que o responsável pela tradução não sabia nada a respeito do que estava fazendo.
"An American Haunting" é o maior exemplo de como um filme pode ser bem vendido em cima de uma verdadeira indústria que surgiu nos últimos dez anos: criação de trailers e marketing visual. Um daqueles exemplos de como um trailer para cinema contém tudo de bom que um filme pode oferecer... e só. Uma pena, porque a história que dá origem ao filme era digna de algo muito melhor.
A história da Bruxa de Bell é conhecida no folclore americano, e faz parte da cultura popular na terra do Tio Sam. Conta que, no começo do século XIX, uma família foi violentamente atormentada por um espírito, que tinha especial predileção pela filha do casal, a jovem Betsy. Violentamente, o espírito atormentou durante 3 anos os Bell até provocar o que seria, pelo folclore, a única morte documentada de um ser humano causada por um espírito. Tão chocante é a história, documentada no Tenessee, que o escritor Brent Monahan decidiu escrever "The Bell Witch: An American Haunting" baseado em relatos da época. A história era perfeita para um conto assustador, o cenário ( a cabana rural da família no interior ) e a época (1818-1820) eram tudo que um bom diretor poderia querer para criar um pequeno marco dos filmes de terror. E era tudo que o diretor Courtney Solomon precisava, certo? Errado.
Contrariando todas as previsões e o empolgante trailer exibido nos cinemas, "An American Hauting" mostra, desde sua cena inicial, que concessões foram feitas para se adequar ao público. O prólogo e o final ambientados nos dias atuais não contribuem para trazer o espectador para dentro do pesadelo dos Bell. Eles funcionam como um respiro, algo que, para um filme que se pretende assustador, não é uma boa idéia. E os momentos de pavor da jovem Betsy Bell com o espírito, se no início são impactantes, logo tornam-se repetitivos. Falta ao diretor Solomon compreender a lição de alguns mestres do cinema: a de que o suspense é mais impactante que o visual. Concentrar atenções na jovem Betsy sendo puxada pelos cabelos, levantada no ar e esbofeteada por um espírito funciona no começo, mas torna-se cansativo depois. Melhor seria mostrar o medo que antecede as aparições, e principalmente, deixar que o público sentisse que algo está para acontecer de assustador, ao invés de simplesmente fazer surgir o pesadelo da família Bell.
Não bastassem as inconsistências de colocar cenas passadas nos dias atuais e não trabalhar o suspense, o filme peca ao tentar resolver o que é um folclore popular, procurandor explicações para o fenômeno - e apelar para complexos psicológicos como justificativa para o surgimento do poltergeist é o maior tiro no pé do filme. Os esforços de Sissy Spacek e Donald Sutherland à frente do elenco, por mais esforçadas que sejam, não surtem efeito para dar mais consistência à história.
Apesar de correto em sua trilha sonora e interpretações, "An American Haunting" é a prova de que não basta ser um operário do cinema ( como é o diretor, que assinou também o horrível "Dungeons and Dragons ) para provocar emoções no público: é preciso, no mínimo, ter um pouco de inteligência para não mudar o que já estava certo. E a história da Bruxa de Bell era, até mexerem nela, tudo que ele precisava respeitar. Infelizmente para nós, ele seguiu o caminho oposto. E o título nacional, por sua vez, não ajuda em nada...

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