Inimigo Meu

Escrito por Fábio Rockenbach

(Enemy Mine, EUA, 1985 )
Direção de Wolfgang Petersen, com Dennis Quaid, Louis Gosset Jr.,



Em determinado momento de “Inimigo Meu”, dois personagens têm uma importante conversa, frente a frente, sobre um assunto que obviamente será importante para a trama. Subitamente, a cena é cortada para um dos personagens correndo por uma caverna, chamando pelo outro, que desapareceu. Esse é apenas um pequeno e gritante exemplo de como o filme de Wolfgang Petersen parece ter sido feito às pressas, sob encomenda, e finalizado sem maiores preocupações – seu roteiro também parece sequer ter passado por uma revisão, tamanho o número de cenas que o espectador facilmente percebe necessitarem de maior desenvolvimento ou mesmo um complemento. Um filme de grande orçamento fatalmente passaria por uma pós-produção mais cuidadosa que indicaria a necessidade, no mínimo, de gravar cenas adicionais. “Inimigo Meu”, no entanto, é assumidamente uma produção B de classe, que contou com um bom elenco e um diretor, na época, já consagrado fora dos Estados Unidos ( por “A História sem Fim” e “O Barco – Inferno no Mar” ), começando uma carreira no exterior. Menos mal que “Inimigo Meu” ganhou bom público no mercado doméstico, porque Petersen poderia ter queimado seriamente seu filme fora da Alemanha.

A trama é ótima, como já havia sido quando foi usada no clássico “Inferno no Pacífico” de John Boorman. O começo é promissor também, quando destroços de uma espaçonave cruzam a tela junto dos restos de um piloto, enquanto somos informados de que, no futuro, a humanidade conseguiu se pacificar, mas passou a enfrentar, fora da Terra, uma guerra sangrenta com uma raça alienígena, os Dracs. E assim, sem apresentação alguma dos protagonistas, somos jogados no meio de uma dessas batalhas espaciais onde um humano (Dennis Quaid) e um Drac ( Louis Gosset Jr, debaixo de pesada maquiagem e ainda assim a melhor coisa do filme ) caem em um planeta inóspito. Perdidos, eles levam a guerra do espaço para seu ambiente selvagem, até acabarem, por força das circunstâncias, tendo de conviver para sobreviver.

É um argumento promissor – provavelmente promissor demais para tão poucos recursos. Uma pena. É até constrangedor, em certos momentos, a precariedade da produção para retratar não apenas o planeta como as criaturas que habitam nele – vale lembrar que alguns meses depois tivemos, por exemplo, “Aliens, o Resgate” para efeito de comparação dos efeitos e das criaturas. Não é preciosismo na análise, nada é mais importante aqui do que a premissa da história, mas ela é prejudicada por essa escassez de recursos técnicos. Na época, provavelmente, isso era pouco notado. Lembrava com carinho de “Inimigo Meu” entre os filmes que me marcaram na infância. Descobri que o que me atraiu foi o conflito de personalidades, de raças, a mútua admiração cercada de desconfiança que nascia da relação – e os efeitos, ou os furos do roteiro, pouco me importavam, nos meus 10 anos. Talvez devesse ter deixado o filme lá atrás, sepultado na lembrança. Pelo menos, é uma estória poderosa que, nas mãos corretas – e com o orçamento correto – poderia render muito mais. Minha nostalgia ferida agradeceria.

5 Comentários:

  1. Anônimo disse...

    Acho que a minha nostalgia ainda me faz crer que o filme é bom, vou ficar com ele na memória só, rs...

  2. Robson Saldanha disse...

    MEME respondido!!

    Voltei!!

    hehehe

  3. Luiz disse...

    Esse filme é ótimo...

    Lembrei de a algumas semanas, porém não me recordava do nome... tanto fiz que o achei e agora o estou revendo...

    Muito bom este filme, apesar dos pesares.

  4. Tonino disse...

    Não achei o filme tão malfeito tecnicamente como dizem não. Os efeitos hoje em dia impressionam e muito. A fotografia é muito bela. Aquela tartaruga mutante é um tanto malfeitinha, mas é só entrar na fantasia que isso passa despercebido. Nota 10!

  5. Anônimo disse...

    Tenho 30 anos e fazia bem uns 20 que não assistia a esse filme. Resolvi assistir hoje, mais uma vez, num ataque de nostalgia. A história é linda e a gente se envolve tanto que a escassez de efeitos dignos ou decentes simplesmente passa! De novo me emocionei.