Top - Diretores

Escrito por Fábio Rockenbach

Tempos atrás o Multiplot fez um TOP dos diretores, e a lista que está aqui é praticamente a mesma que coloquei lá, com exceção de um nome. Fazer uma lista de 10 grandes diretores é uma m... porque sempre vai ter gente ficando de fora, como aliás aconteceu. Dá para perceber que sou um fã dos cinemas americano e oriental, e apenas flerto com o cinema europeu. Provavelmente questão de oportunidades: quem sabe até o final do ano o pequeno ciclo europeu que estou preparando não mude um pouco as coisas.

Akira Kurosawa

Tive a sorte de ter minha primeira experiência com Kurosawa justamente assistindo a “Os Sete Samurais” em uma cópia VHS. Tinha não mais do que 14 ou 15 anos, e mesmo que a teatralidade às vezes exagerada dos atores nas reações e a língua tenham soado estranhas para um primeiro contato, nada ficou mais marcado do que a narrativa extremamente sólida, o conto de heroísmo sem os modismos americanos, sem as fanfarras musicais das trilhas modernas, sem a câmera lenta. A bandeira fincada sobre o túmulo dos samurais ainda assombra a mente, volta e meia. Digo que foi sorte porque Kurosawa nem sempre é bem aceito por todos, e começar com o pé direito na carreira do mestre japonês é essencial. Para consolidar, a segunda experiência foi com Yojimbo. E a partir de então, o que era um flerte se tornou relacionamento sólido – com a obra de Kurosawa e, em conseqüência, com o cinema oriental, que ganhou um fã nas obras do passado e do presente ( basta ver a presença de Zhang Yimou nesta lista também )


Billy Wilder
Wilder parecia ser um sujeito extremamente engraçado para quem não convivia com ele, mas difícil de engolir para quem estava ao seu lado. O humor irônico e sarcástico do diretor não poupava ninguém – basta procurar uma antologia de frases célebres ditas por ele, onde esculacha com o que for necessário, sempre com inteligência. Seus filmes não são marcados por cenas majestosas nem cenários grandiosos: são conduzidos com ritmo constante, diálogos afiadíssimos, humor mordaz e composições de cena sempre eficiente, mesmo as estáticas. Tinha absoluto domínio do espaço cênico. Como não poderia o diretor de Pacto de Sangue, Testemunha de Acusação, Crepúsculo dos Deuses, Quanto mais Quente Melhor, Farrapo Humano, Se Meu Apartamento Falasse, A Montanha dos Sete Abutres, A Primeira Página e Inferno 17 ficar de fora de qualquer lista desse tipo?


Alfred Hitchcok
Acredito que poucos cineastas tenham construído relacionamentos tão artificiais quanto Hitch. O careca gordinho não tinha vocação para romance na tela. Notadamente seus filmes, se fossem seres vivos, ficariam sem jeito em todas as cenas em que isso acontecia - e existe exemplo melhor do que a declaração de amor e pedido de casamento em "Correspondente Estrangeiro" para exemplificar? Porque começar falando mal de um dos diretores de um Top 10? Porque do outro lado, se perdia a mão em cenas românticas, construía como ninguém situações de suspense com o cotidiano usando de um absoluto controle das noções de edição, o tempo exato para cada cena, para cada frame, para cada reação. Hitch nunca precisou apelar para o paranormal - OK, nunca ninguém vai saber o que houve em Bodega Bay, nesse caso eu me rendo - apenas para situações onde a platéia era de tal forma identificada com seu herói/vítima, normalmente um pacato sujeito que poderia estar ali, sentado ao seu lado, que as lições de suspense do mestre ficaram cristalizadas: não surpreenda a platéia com uma bomba, diga a ela que a bomba está na sala, e aí sim você terá suspense. Se não bastasse, era um artesão das imagens. Tecnicamente, seus filmes são uma gramática completa.
PS: E se no ítem paranormal "Os Pássaros" poderia escorregar, no ítem romance há como encontrar uma brecha para "Um Corpo que Cai" e seu misto de obsessão e atração.


Martin Scorsese
Sempre achei impressionante a maneira como criatura e criador se fundiram em "Touro Indomável". DeNiro buscou Scorsese em uma clínica de reabilitação no final dos anos 70. Disse, não com estas palavras, mas neste tom: "Essa é a tua chance. Vou me arrebentar por esse papel, se arrebenta por mim." Os dois se arrebantaram. Acho que o Oscar para Scorsese deveria ter vindo antes. Deveria ter vindo já umas 3 ou 4 ocasiões, duas nos anos 70, duas nos anos 80. Mais uma, obrigatória, no início dos anos 90. Não acho que os últimos filmes façam juz ao cineasta que eu conheci lá da era onde a América começava a cordar do sonho. Scorsese é um sobrevivente. Coppola ficou pelo caminho, Spielberg deixou a inocência criativa para trás, DePalma esqueceu de ousar. Scorsese não melhorou, mas manteve o sopro que diz que, a qualquer momento, ele pode assombrar a tela com algo que faça com que nos lembremos pelos próximos 15 anos. O homem é uma enciclopédia de cinema ambulente e conseguiu o feito de se inserir a si próprio no livro que ele conhece de cor.


Steven Spielberg
Stevie, é o seguinte: sem boiolice, vou te chamar assim porque, no fundo, é uma relação de companheirismo antiga. Vê, eu aprendi a amar cinema, em parte, graças a você. Em uma época onde não existia toda essa mistura de conforto e falta de graça de assistir a filmes em casa, em uma televisão pequena e uma sala iluminada, a gente esperava meses para chegar aquele filme do qual todos falavam. Que estava nos álbuns das bancas. Que estava nas camisas. Que estava em bonecos espalhados pelas lojas. Eu sei que todo esse lance de cinema e marketing não foi exatamente bolado por você, mas que você ganhou uma bolada com isso. Mas nunca me importei, porque você sempre entregava o que prometia. E o caso é que, naquela época, só dava o teu nome espalhado por aí. Foi um tal de extraterrestre aqui, tubarão por lá, arqueólogo aqui, fantasmas do outro lado, goonies, gremlins, viagens no tempo... aff. Sinto um pouco de falta daquele tempo onde você exorcisava os fantasmas da sua infância sem pensar nos outros, apenas como um moleque brincando com o melhor brinquedo do mundo - isso explica porque eu, durante algum tempo, imaginava que iria usar barba ao crescer.


Carl Dreyer
De Carl Theodor Dreyer só assisti dois filmes. Bastaria um. É o único diretor que eu colocaria em qualquer lista por causa de um único filme, mudo, feito em 1928. Assisti "O Martírio de Joana D'arc" quando tinha cerca de 21 anos. A experiência foi tão marcante que sonhei com algumas das cenas que vi naquela noite. O rosto de Renné Falconetti impressiona, as faces despidas de maquiagem, o misto de raiva e desespero, fanatismo e falsidade. Um cara que consegue contar uma história poderosa como a do julgamento de Joana D'arc sem artifícios sonoros e transparecer mais profundidade no estudo da alma humana do que qualquer outro filme feito sobre o tema posteriormente merecia ser chamado de gênio, pensei eu. Quando assisti "Vampyr", constatei toda a carga importante da religião nos temas abordados pelo dinamarquês Dreyer em seu cinema. Ainda estou à cata de "Ordet"mas a mim basta o primeiro. O diretor de um dos 3 melhores filmes de todos os tempos na minha singela opinião tem que estar aqui...


Stanley Kubrick
Nunca fui um fã devoto de Kubrick. Sempre achei Kubrick meio cabeça demais - e sou meio Kaeliano de defender que filmes precisam, sobretudo, ser divertidos, antes de serem cerebrais. Mas a m... é que todas as vezes que dava de cara com os filmes do barbudo excêntrico eu não conseguia desgrudar os olhos da tela, mesmo que o que eu visse não fosse particularmente diversão. Mas desde o início - e o início foi lá pelos 12 anos - tudo sempre pareceu perfeitamente planejado. Orquestrado. No seu devido lugar, acontecendo no momento e maneira que tinha que acontecer. Eu não poderia deixar de admirar um cara que tivesse se proposto a indicar caminhos para o futuro da humanidade e a explicar a aurora do seu conhecimento - ainda que não seja particularmente fã de Nascido para Matar e De Olhos bem Fechados, bastam 3 obras de Kubrick para eu incluir o f.d.p. em qualquer tipo de relação dessas que venha a fazer.


Zhang Yimou
Obrigado Kurosawa. Antes de conhecer a obra de Akira, fugia do cinema oriental, assustado com a pronúncia e os gestos caricaturais que via de relance em alguns filmes. Não fosse por Kurosawa, talvez viesse a passar longe de Imamura, Kaige, Ozu, Mizoguchi e não viesse a conhecer Zhang Yimou em 1992. "Lanternas Vermelhas" abriu esse caminho. "Amor e Sedução" e "Tempo de Viver" consolidaram. "Herói" foi o passo definitivo para estar aqui. Depois do que assisti na estória do Rei de Qin, os 3 assassinos que o juraram de morte e a estória do guerreiro sem nome, será preciso muito para que possa considerar algum filme, qualquer que seja, mais belo que o épico feito em 2002 por Yimou. "O Clã das Adagas Voadoras" tem beleza, um certo quê de tragédia shakespeariana, mas foi apenas comprovação. Yimou trilha um caminho feito de equilíbrio e semiologia em belas imagens e estórias contadas pela paleta de cores e emoções de sua lente mágica.



John Ford
Ford foi uma espécie de professor informal de muita gente graúda do seu tempo. Até Howard Hawks, que viria a ser seu "concorrente" como grande nome do western, admitiu ter aprendido muito sobre cinema com Ford. Ainda que as noções de moral e macheza do diretor tivessem uma visão tão estreita quanto a do anti-herói Ethan Edwards de Rastro de Ódio, Ford sempre demonstrou em seus filmes uma força que transcendia os limites de uma simples estória de cowboys. Foi assim desde "No Tempo das Diligências", onde a carruagem atacada por índios é em si própria um microcosmo rico de tipos e atitudes menos simplistas do que seria de se esperar de um mero bangue-bangue. "Rastros de Ódio" é outro exemplo. Ainda que eles não tenham sido maioria, Ford foi o pastor de uma geração inteira de coroinhas que rezavam missa a seu lado. As Vinhas da Ira, O Homem que Matou o Facínora e Paixão dos Fortes estão aí, mais fortes do que nunca, para provar isso ainda hoje.


Sergio Leone
Um filme de Sergio Leone é inconfundível. Ou melhor, um western: está lá nos closes, no ritmo calmo que parece dizer "Vai com calma rapaz, eu não tenho pressa. Você tem pressa?". A história do western seria bem mais chata sem Leone, seus pistoleiros solitários e moral decadente para injetar um pouco de ironia, crueza e diversão - mesmo que a idéia original não tenha sido sempre dele, a voz do discurso sempre rouca, escondida por trás da barba. Um filme de Leone pertence a Leone. "Era uma vez na América" pode não parecer à primeira vista, mas tem parte desse DNA encarnado na forma como retrata expressões, no ritmo lento, no sentimento de que algo se perdeu e não se sabe ao certo para que. Talvez Leone ainda seja um mistério para mim, mas existem poucos cineastas dos quais eu tenha gostado de 100% das amostras às quais tive contato.

1 Comentários:

  1. Anônimo disse...

    Thanks :)
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