(The Road Home, 1999)
Direção de Zhang Yimou, com Zhang Ziyi, Sun Honglei, Zheng Hao, Zhao Yulian, Li Bin, Chang Guifa, Sung Wencheng, Liu Qi, Ji Bo, Zhang Zhongxi
É preciso muito café no bule para fazer um dos mais tocantes e emocionantes romances da última década sem que haja, em nenhum momento do filme, um único beijo. Não é para poucos. E mesmo sem o beijo, sem o toque, sem os finalmentes que muitos cineastas acabam adiando ao máximo para provocar uma catarse, “O Caminho Para Casa” transborda romantismo em seus poros. É uma visão idealizada, ingênua até, um amor pueril. Emocionante nas mãos de um mestre da narrativa visual como Zhang Yimou.
Yimou talvez seja, visualmente, o mais complexo e competente artesão do cinema. Seus filmes, sem exceção, são um deleite para os olhos. “Herói” é tema para uma dissertação de mestrado acerca dos signos e ícones semióticos presentes em sua narrativa e na força do discurso visual através da paleta de cores ao longo da projeção. “O Clã das Adagas Voadoras”, “Amor e Sedução” e “Lanternas Vermelhas” são extensões de mestrado de aulas referentes á composição de quadro, equilíbrio formal, fotografia deslumbrante, a posição da câmera cuidadosamente planejada, o equilíbrio de elementos traduzidos na tela. Yimou é um artista como poucos. Talvez por isso tenha atraído tanta ira quando deixou de lado alguns temas orientais e debruçou-se sobre uma linguagem mais “universal”. Para muitos, a visão do amor que ele apresenta em “O Caminho para Casa” é uma deturpação e uma estereotipação de valores orientais para agradar ao ocidente. E daí, p....? Há algo mais imbecil do que críticos querendo definir baseado em suas idéias os rumos da carreira de um realizador – principalmente um de tamanho apuro visual quando Yimou?
Não vou mencionar os prêmios que “O Caminho para Casa” acumulou desde que foi lançado. Yimou ensaia o uso simbólico da paleta de cores que ele endeusou de forma absurda na obra-prima “Herói” quatro anos depois, mas sem o uso semiótico do significado das cores. Preferiu ser mais simples: aqui, o presente é apresentado em preto e branco, e a estória que ele busca no passado é convertida em cores esfuziantes – traduz a riqueza de sentidos a nostalgia preservada, a alegria em contrapartida à tristeza do tempo presente.
A história singela mostra o filho adulto que volta á pequena aldeia onde nasceu: seu pai morreu, e a mãe quer honrar uma antiga tradição e trazê-lo em um cortejo a pé de quilômetros. Os anciãos querem demovê-la da idéia. O filho relembra a história de como seus pais se conheceram: é a chave para entender a devoção de sua mãe e a necessidade de que o pai percorra, pela última vez, a estrada que criou a história de amor entre os dois.
O romance que conduz essa estória atemporal – e sem nacionalidade ou língua – não se concretiza no contato entre os corpos: ela emociona pela devoção através dos dias, das tempestades, da solidão, da espera constante. Se resume no desespero em encontrar um objeto perdido pelo caminho, em reconstruir uma singela vasilha de comida com um significado especial. Zhang Yimou fala uma língua universal que tem um apelo maior para quem já viveu ou sonha viver um grande amor. “O Caminho para Casa” é a sua declaração de amor, belíssima, a essa simples possibilidade. Maravilhoso.
Indiscreto (1958)
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Indiscreto é uma comédia romântica marcada por reencontros e regressos.
Antes de mais pelo reencontro de Cary Grant com o realizador Stanley Donen,
com que...
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