Balanço do Mês

Escrito por Fábio Rockenbach

Entre novos filmes e revisões, poucos tempo para clássicos e muito tempo para matar a saudade de algumas pérolas da infância. Sobre os novos filmes, uma safra até boa, mas a época de premiações em outros anos parecia mais rica de qualidade ( ainda não vi Benjamin Button e Slumdog Millionaire ) e uma grande surpresa, pessoalmente: "O Dia em que a Terra Parou" foi bem melhor do que eu imaginava. Alguns já criticados aqui, outros surgirão em breve.


Os Inocentes
( The Innocents, 1961 ) Direção de Jack Clayton
Assustador sem ser apelativo. Clayton praticamente resumiu em duas horas todos os ícones sobre casas mal-assombradas em uma das mais ricas experiências visuais do gênero.



Gran Torino
( Gran Torino, 2008) Direção de Clnt Eastwood
Só o velhor Clint para conseguir usar do próprio estereótipo criado em torno dele para criar uma nova expectativa e revertê-la no clímax de uma bela história - criada por momentos empilhados, tijolo a tijolo, que se justificam no final.

O Caminho para Casa
( The Road Home, 1991 ) Direção de Zhang Yimou
Uma das mais tocantes experiências românticas do cinema nos últimos 20 anos. E Zhang Yimou nem precisou usar de beijos ou do simples toque para isso.

Os 3 dias do Condor
( 3 Days of Condor, 1975 ) Direção de Sydney Pollack
Trama de espionagem à moda antiga, sem a ação descerebrada das produções atuais. Vale mais do que tudo o charme. São os atores que conduzem a trama, e ter Redford em seu melhor momento ajuda muito.

Zombie, a Volta dos Mortos Vivos
( Zombie, 1979 ) Direção de Lucio Fulci
Fulci em seu melhor momento, entregando cenas antológicas. Tem uma das cenas de morte mais "what a fuck" da história dos filmes de horror, envolvendo uma lasca de madeira.


O Veredito
(The Verdict, 1982 ) Direção de Sidney Lummet
Ainda um dos melhors filmes de tribunal do cinema, e um dos mais patéticos e ridículos anti-heróis das últimas décadas. Por isso mesmo, ótimo.


Rede de Mentiras
(Body of Lies, 2008 ) Direção de Ridley Scott
Não há muito de Ridley Scott aqui, mas já faz tempo que não surge algo que possa ser dito ser, realmente, de Scott. O filme pertence a DiCaprio mesmo - e se a trama é intrincada, ou se o filme flui pesado, a culpa é do objeto em questão. Felizmente não foi tratada de forma rasa. Mas não é um filme que eu veria novamente.

Milk, A Voz da Igualdade
(Milk, 2008 ) Direção de Gus Van Sant
Duas palavras: Sean Penn.

Appaloosa
( Appaloosa, 2008 ) Direção de Ed Harris
Parece pegar vários caminhos e não ter direção, mas o tempo todo Harris sabe o que está fazendo.

Frost/Nixon
( Frost/Nixon, 2008 ) Direção de Ron Howard
Trata-se da história de dois homens que foram do topo para a sarjeta e querem voltar. Mas eles sabem que somente um poderá sair vitorioso. É isso mesmo... no fundo, é um combate.

Warriors, Os Selvagens da Noite
(Warriors, 1979 ) Direção de Walter Hill
Walter Hill da forma como sempre foi melhor: diversão pura, mergulhando no underground com uma boa dose de falsidade em prol da ação.

O Dragão e o Feiticeiro
( Dragonslayer, 1981 ) Direção de Matthew Robbins
Nem de longe parece um filme Disney. Talvez o mais dúbio e negro conto de dragões e feiticeiros, provavelmente avançado para a sua época. Fica melhor com o passar dos anos. Não serve para crianças assistirem antes de dormir.

A Vingança do Diabo
( Pumpkinhead, 1988 ) Direção de Stan Winston
Stan Winston podia se aventurar mais na direção. Seu filme é um dos melhores exemplares do cinema de horror dos anos 80. Envolvente.



A Bruma Assassina
( The Fog, 1980 ) Direção de John Carpenter
Carpenter naquela que considero sua melhor época. Despretensioso, muito melhor do que a refilmagem. Este aqui tem mais alma.

Os Estranhos
( The Strangers, 2008 ) Direção de Bryan Bertino
O horror pelo horror, sem justificativa. A violência pela violência. Não é muito diferente do que se vê em outras mídias. Se não há o susto, há o baque pela forma sêca como é mostrado...

Firefox - Raposa de Fogo
( Firefox, 1981 ) Direção de Clint Eastwood
Clint Eastwood na guerra fria, invadindo a URSS para roubar uma aeronave de espionagem de alta tecnologia para o governo norte-americano. Sem ação desenfreada, mas com um clima de espionagem que não se faz mais hoje em dia.


[REC]
( [REC], 2007 ) Direção de Jaume Balagueró
Poderia ser manjado e enjoativo, na onda de filmes que beberam da idéia, mas tem um charme próprio. E assusta, o que é mais importante para um filme de terror.

Olhos de Serpente
( Snake Eyes, 1998 ) Direção de Brian DePalma
Toda a histeria visual de DePalma em movimentos e composições brilhantes. A resolução final - não apenas da história, mas o que parece ser até uma certa preguiça de DePalma na conclu~são - acabam empalidecendo um pouco a brilhante metade inicial.

Quando Chega a Escuridão
( Near Dark, 1988 ) Direção de Kathryn Bigelow
Seria refilmado em 2008 se não tivessem lançado "Crepúsculo". Melhor assim, deixem o filme de Bigelow lá atrás, com seu status de cult, perdido nas estradas do meio oeste com sua "família" de vampiros errantes e perdidos. Tem sua grandiosidade própria, sobrevive melhor assim, conhecido por menos pessoas.


Filadélfia
( Philadelphia, 1993 ) Direção de Johnathan Demme
Visto hoje, ainda mais ultrapassado em sua própria visão preconceituosa do que deveria ser um grito contra o preconceito. Mas vale por um Tom Hanks, realmente, fabuloso. E visto hoje, percebe-se como Washington literalmente está sobrando no filme, posto de lado...

O Fim do Mundo
(When worlds collides, 1951 ) Direção de Rudolph Matté
Tolo e cativante em suas visões de tecnologia do futuro - o foguete sendo lançado por uma rampa montada em uma montanha é hilário. Mas cativante em toda sua trama. deve ter influenciado muitos dos recentes filmes-catástrofe sobre perigos ao nosso planeta vindos do espaço. A falta de rigorosidade científica e tecnologia nos efeitos não me impediu de apreciar.


Peggy Sue, seu Passado a Espera
( Peggy Sue Got Married, 1984 ) Direção de Francis Ford Coppola
Muito aquém do talento de Coppola, mas ainda nostálgico. Nunca entendi como Kathleen Turner podia convencer no papel de uma adolescente, mas sendo uma imagem do presente projetada em seu passado, revivendo-o ( apenas nós a vemos como uma mulher mais velha ). Talvez seja isso que ainda me incomode.


O Dia em que a Terra Parou
( The Day the Earth Stood Still, 2008) Direção de Scott Derrickson
Surpreendeu na primeira vez. Não resistiu a uma revisão. Esperava mais do mesmo, mas Derrickson avacalha com a pretensão americana de "falar pelo mundo", e avança em pontos que o clássico de 1951 não conseguiu. O problema, que fica mais visível a cada revisão, é que derrapa na correção política e acelera demais no seu final. Sem falar que não aguentei o filho do Will Smith - como já sabia o que ele diria, acelerei o filme sempre que ele abria a boca.

007 - Quantum of Solace
( Quantum of Solace, 2008 ) Direção de Marc Forster
Estou acompanhando um personagem mais humano, violento, realista, mais inserido em nosso tempo, mas sem identidade, sem carisma, sem algo que me faça conectá-lo a mim como espectador. Algo está perdido...

O Ultimo Guerreiro das Estrelas
( The Last Starfighter, 1984 ) Direção de Nick Castle
Ultrapassado em sua tecnologia, mas ainda cativante. Tolo, é verdade, com problemas de lógica mesmo em sua falta de lógica, mas quem liga pra isso? É infância, saborosa...



Capricórnio um
( Capricornio One, 1978 ) Direção de Peter Hyams
Uma das mais ricas idéias tão bem desenvolvida ao longo da maior parte do filme para, se forma inexplicável, ser perdida por uma aparente pressa na resolução que atropela todos os cuidados com a verossimilhança. Uma pena, a última meia hora quase põe a perder a brilhante metade inicial.

Sete vidas
( Seven Pounds, 2008 ) Direção de Gabriele Muccino
Manipulador, manda a lógica e a continuidade para o espaço tantas vezes, e aposta tanto em um "segredo" facilmente descoberto na primeira metade que nem dá pra me importar com o fato de ter sido feito só para arrancar lágrimas.

Atos que desafiam a Morte
( Death Defying Acts, 2007 ) Direção de Gillian Armstrong
Houdini merece mais do que uma história indecisa em seus rumos e motivações.


Perigo em Bangcok
( Bangcok Dangerous, 2008) Direção de Oxide Pang Chun e Danny Pang
Pobre Cage... tem feito por merecer o descaso nos últimos anos.

Corrida Mortal
( Death Race, 2008 ) Direção de Paul Anderson
Pobre Statham, merece um dia encontrar um bom diretor. Acelera e foge...

Gran Torino

Escrito por Fábio Rockenbach

(Gran Torino, 2008)
Direção de Clint Eastwood, com Eastwood, Christopher Carley, Bee Vang



Clint Eastwood é “o” grande diretor contemporâneo do cinema norte-americano. Perdoem-me os fãs – também sou – de Martin Scorsese. Ou de qualquer outro grande nome, como Steve Soderbergh, mas o velho Clint versa sobre tantos temas em seus filmes, com tamanha eficiência, e sem cansar de surpreender pela maturidade artística e discursiva, que não consigo encontrar outro expoente que faça tão bom uso de imagens e diálogos para calar fundo na alma o que muitos cineastas não conseguiriam rasurar em uma carreira inteira.

E o surpreendente é que o velho Clint não precisa de muito. Bastam algumas semanas, poucos takes em gravações sempre rápidas para entregar obras que, pela maneira com que nos batem na cara, permanecem ao nosso redor por um longo tempo. Não em nossas retinas, o velho não é esmerado em fazer filmes visualmente arrebatadores, apesar de sempre saber emendar um plano geral perfeito, de inserir seus elementos no local exato, de entender a hora de trabalhar com as palavras e a hora de trabalhar com as imagens. – ou mesmo com a trilha, quase inexistente aqui em seu último trabalho. O que permanece são as sensações que seus filmes provocam. E “Gran Torino”, sem último rebento, é um desses exemplares. Poderá ser para muitos um filme “menor” de Clint, poderá nunca se comparar à densidade dramática de “Sobre Meninos e Lobos”, a força de “Os Imperdoáveis” ou o discurso maduro e sem vaidades de “Cartas de Iwo Jima”. “Gran Torino” é parente próximo de “Menina de Ouro”, pela maneira como constrói escadas sobre muros altos demais usando, inevitavelmente, o ser humano como matéria-prima.

Dizer que Walt Kowalsky, personagem de Clint no filme, é um racista é simplificar as coisas. Walt é um americano com muitas marcas pelo corpo para esquecer. Seu estilo de vida ficou para trás, o mundo tornou-se um estranho. Seu bairro tornou-se reduto de imigrantes asiáticos, e ele parece ter sido tudo o que restou daquele americano de classe média que ainda mantinha a bandeira pendurada em frente à sua casa. E o pior para Walt é que, vivendo entre asiáticos, ele rosna e maldiz entre palavrões e piadas infames a herança deixada pela Guerra da Coréia e pelo fato de que a própria família tornou-se um elemento estranho a ele – e logo seu filho foi vender carros japoneses depois que Walt passou a vida trabalhando na Ford, fazendo o “legítimo carro americano”.

É uma visão simplista, e Clint logo deixa isso claro. “Gran Torino” poderia ser uma mera história de como um homem pode mudar seus conceitos. Walt se aproxima de seus vizinhos, um dos quais tentou lhe roubar seu Gran Torino 72 de sua garagem, e logo se dá conta de que “há mais semelhanças entre mim e esses gooks do que com minha podre família”. Mas a história contada por Clint não termina em oportunidades de redenção para um homem que afirma conhecer muito da morte, e pouco da vida. A morte, que ele conhece tão bem, começa a se aproximar de Walt ao mesmo tempo que seus novos amigos enfrentam dificuldades com a tensão provocada pelas gangues no bairro, mesmo que pertencentes ao mesmo sangue. E Walt logo se dá conta de que eles nunca terão paz enquanto aqueles marginais rondarem o bairro.

Gran Torino” é mais um de seus atestados de maturidade artística que certamente encontrará detratores no que muitos poderão chamar de pretensão travestida de lentidão. Para mim, é um filme que ganhará pontos a cada revisão, porque vai sendo construído tijolo por tijolo. Arma em punho, discurso ranzinza, lembranças de guerra, os dedos formando uma arma, apontando... é um discurso que fica enraizado na imagem do inconsciente popular que o próprio Clint criou de si próprio ao longo da carreira. E não deveria ser surpreendente que Clint use essa imagem pré-estabelecida e que ela seja alimentada ao longo de todo o filme para deixar claro a forma como Walt irá resolver tudo aquilo. E não deveria ser surpresa, mas é nessa momento que Clint nos surpreende novamente. Um baque no estômago, um momento em que tudo o que vinha sendo cuidadosamente jogado em doses homeopáticas, despretensiosas, ganha sentido pleno, as peças se encaixam, os gestos se justificam, as intenções se revelam de forma bruta. E o cineasta maduro e inteligente surge, mais uma vez, em sua melhor forma.
Um dos grandes filmes do ano, e só poderia vir do velho...

Appaloosa - Uma Cidade sem Lei

Escrito por Fábio Rockenbach

(Appaloosa 2008)
Direção de Ed Harris, com Vigo Mortensen, Ed Harris, Jeremy Irons, Renné Zelweger




Muito se fala em "reinvenção" ou "releitura" de certos gêneros, principalmente o western, gênero americano por excelência. Ed Harris, notável ator - e crescente diretor de idéias interessantes, se não ainda na narrativa, em suas concepções - não quer reinventar o gênero em seu segundo filme como diretor, "Appaloosa", mas se propõe a afirmar que ele pode fazer mais do que passar adiante velhos preceitos. O velho oeste não foi feito, afinal, apenas de tiroteios intrépidos. O mais bravo dos atos podia ser, muitas vezes, o menos compreensível. Seu filme cavalga por caminhos poeirentos que sempre parecem conduzir a um destino, mas mudam bruscamente, como se buscasse seu rumo. No entanto, sempre sabe onde quer chegar. Talvez demore um pouco para se revelar, mas quando o faz é que se percebe o quão é notavelmente bem conduzido em suas intenções. "Appaloosa", adaptação de famosa novela de Robert B. Parker, é a estória da amizade entre dois homens que poderiam ter apenas uma coisa em comum, mas aproximam-se por compartilharem sentimentos que só são afeitos dos heróis formados pela mitologia - inspirados nos homens de verdade e nas histórias que passam de geração a geração, e por isso também tão reais.

Esse conto de amizade se consolida aos poucos, e quando finalmente torna-se límpido, fecha um círculo que parecia conduzir a um caminho desnorteado. Então, todo o resto é segundo plano, mera base para contar a história de Virgil ( Ed Harris ) e Everett ( Vigo Mortensen ), dois homens que constróem sua estrada de cidade em cidade, como pacificadores, vendendo suas armas a serviço da lei, até chegarem em Appaloosa, pequena cidade controlada pelo vil Braggs ( Jeremy Irons ), e se envolverem com Ellie ( Renné Zelwegger ), mulher tão atraente quanto danosa aos olhos de Virgil - mas ainda assim, o melhor que ele já encontrou até hoje.

As cores desbotadas do filme de Harris mostram que não importa ao diretor criar clima para grandes duelos, tampouco injetar emoção em uma caçada ao bandido ou pelo tão famoso acerto de contas. "Appaloosa" transforma esses elementos, tão caros ao western, em meros acessórios para injetar curvas na estrada que conta a amizade dos dois homens da lei. E Virgil, pouco a pouco, revela-se o pesonagem secundário dessa jornada. Se toda a ação o circunda, não é ele quem a conduz, no fim das contas. Nem é ele que transforma em aprendizado os acontecimentos. "Não creio que ela busque todos os homens. Acho que ela quer sempre o manda-chuva mor." prega Everett, anunciando a definição que acaba sendo a bússola que norteará os atos de sacrifício em prol da amizade.

Todo o acerto de contas é desviado para rumos tornos - por ironia, por influência de uma pessoa de moral torta. Mas é tudo feito com correção, com motivações prontas a explodirem, e sempre contidas. Elas só surgem no momento exato. ("Ela me ama, impostor.") Não sei até onde vai a contribuição da novela original, e onde começam os méritos do roteiro que Ed Harris co-assina, mas a simples escolha do texto e seu trabalho nele comprova a visão sobre Harris ser aquele cineasta de idéias interessantes - e o antagonista da história, Jeremy Irons, acaba sendo o elo fraco que liga todos os elementos dessa história, mostrando que "Appaloosa" não é um conto de "quem contra quem", mas sim de "quem por quem", o que é bem mais difícil de se construir.

Corrida Mortal

Escrito por Fábio Rockenbach

(Death Race, 2008)
Direção de Paul W. S. Anderson, com Jason Statham, Joan Allen, Ian McShane




Paul W.S. Anderson já dirigiu coisas estúpidas e algumas regulares, mas ao refilmar o cultuado "Corrida da Morte 2000", um filme de ação B bancado por Roger Corman nos anos 70, ele conseguiu se superar. Com a benção do mesmo Cormam, e mais dinheiro para se gastar em explosões, Anderson recebeu o diploma de mediocridade extrema, e arrastou gente de calibre com ele pro fundo do poço. O cara é muito ruim MESMO.

Um resumo basicão da estória, porque ela é só uma desculpa esfarrapada para tudo: um ex-piloto de corrida é acusado injustamente da morte da esposa e enviado a uma prisão, alguns anos no futuro, onde o grande "boom" da audiência televisiva é uma sangrenta corrida entre presidiários (?!) onde vale tudo. A morte da esposa de Jensen, nosso herói (!!) é uma farsa para levá-lo à prisão, para que a tirânica diretora Henessey ( Joan Allen, acreditem se quiserem ) possa colocá-lo atrás da ma´scara de Frankenstein, o mais idolatrado dos pilotos do jogo (!!!), cuja morte foi mantida em segredo.

OK, desculpa dada, vamos ao que interessa. Para buscar coisas boas nessa m... fugindo dos elogios às cenas de perseguição e explosões - o que, aliás, não é mais preciso ser um expert na indústria para fazer bem - resta dizer que Jason Statham merece, um dia, receber as bençãos de um bom diretor e uma produção mais esmerada. O cara é legal. Foi um bom vilão em "Cellular", segurou as pontas na franquia blockbuster "Carga Explosiva" e já provou que mantém sem problemas a atenção do público em um filme de ação. Falta a ele dar as caras com um bom diretor, o que Anderson certamente não é. Nunca foi. Não acredito que um dia seja. O cara é um medíocre copiador de estilos batidos que começa a acrescentar uma certa manha de Michael Bay em cenas idiotas ( como a câmera lenta e os cabelos esvoaçantes das garotas que co-pilotam os carros, todas gostosíssimas e presidiárias também ). E Anderson aprendeu que nesse tipo de filme, importa balançar muito a câmera, fazer cortes rápidos, onde uma sequência é vista de 4 ângulos em menos de 3 segundos. Isso é ilusão de movimento. Isso costuma iludir grande parte do público, mas não se sustenta com tantas idiotices e furos no roteiro.

O próprio filme original foi um dos motivadores do polêmico "Carmageddon", jogo que foi até banido no Brasil. A refilmagem admite não apenas a influência da estética de games modernos como deixa claro a motivação para lucrar mais com um jogo baseado nele: existem "atalhos" na pista de corrida, e os carros ativam armas e escudos passando sobre sinais espalhados na pista ( mais "Gamer" impossível ). A violência explícita se torna tão nauseante ( pelo menos na versão sem censura ) que o público fica anestesiado. Talvez seja essa a receita para querer que se compra a idéia de que um extintor de incêndio no rosto de um homem ou uma caixa de aço na nuca não façam mais do que tontear alguém...Dor é besteira, e a lógica que vá para o espaço.
Statham merece coisa melhor. Anderson até acertou a mão com os fãs em filmes como Resident Evil e Mortal Combat, e conseguiu estragar franquias consagradas ao meter a mão em "Alien Vs Predador". Mas ele conseguiu um feito inédito: conseguiu colocar na boca de uma consagrada atriz como Joan Allen uma frase como "OK, chupador de piça, fode comigo e veremos quem deixa a merda no caminho.".

Isso, sim, foi um feito digno de uma medalha.

Se quer ver um filme sobre o mesmo tema, feito com um décimo do orçamento, há 10 anos atrás, que também não é nenhuma maravilha mas tem mais alma do que essa b..., assista "O Sobrevivente" com Arnold Schwarzenegger, de 1987.

Screenshots #2 - Os Inocentes

Escrito por Fábio Rockenbach

Durante duas horas, Jack Clayton me fez acreditar que foi um talento perdido pelo acaso. Também me fez acreditar que toda a simbologia que envolve casas mal-assombradas, espíritos demoníacos, aparições fantasmagóricas e ruídos estranhos nasceu em 1961, e não muito antes de adaptar "A volta do Parafuso" de Henry James, para as telas. "Os Inocentes" não é um filme assustador - pelo menos para nossos padrões atuais - já que Deborah Kerr sempre anuncia antecipadamente, olhos arregalados, a aparição das "aberrações" na velha mansão. Mas o forte do filme de Clayton é a forte e dúbia insinuação sexual - cortesia de Truman Capote no roteiro? -, o contraste entre luz e sombra, os ângulos deconstrutivos, a sobreposição de imagens, as brincadeiras com reflexos. "Os Inocentes" me fez crer que, um dia, Clayton foi promissor...




























Screenshots #1 - The Road Home

Escrito por Fábio Rockenbach

Com atraso, mas constante agora. O primeiro Screenshots, proposto pelo pessoal do Multiplot, vai pro filme criticado abaixo. Zhang Yimou constrói "O Caminho para Casa" com dois coadjuvantes de luxo: a paisagem natural - seja inundada pelo sol, pelas cores ou pelo branco da neve - e coloca em objetos sem vida um significado único pelo que eles representam. Bonito demais... É provável que Yimou reapareça no Screenshots mais dia, menos dia...
























O Caminho para Casa

Escrito por Fábio Rockenbach

(The Road Home, 1999)
Direção de Zhang Yimou, com Zhang Ziyi, Sun Honglei, Zheng Hao, Zhao Yulian, Li Bin, Chang Guifa, Sung Wencheng, Liu Qi, Ji Bo, Zhang Zhongxi



É preciso muito café no bule para fazer um dos mais tocantes e emocionantes romances da última década sem que haja, em nenhum momento do filme, um único beijo. Não é para poucos. E mesmo sem o beijo, sem o toque, sem os finalmentes que muitos cineastas acabam adiando ao máximo para provocar uma catarse, “O Caminho Para Casa” transborda romantismo em seus poros. É uma visão idealizada, ingênua até, um amor pueril. Emocionante nas mãos de um mestre da narrativa visual como Zhang Yimou.

Yimou talvez seja, visualmente, o mais complexo e competente artesão do cinema. Seus filmes, sem exceção, são um deleite para os olhos. “Herói” é tema para uma dissertação de mestrado acerca dos signos e ícones semióticos presentes em sua narrativa e na força do discurso visual através da paleta de cores ao longo da projeção. “O Clã das Adagas Voadoras”, “Amor e Sedução” e “Lanternas Vermelhas” são extensões de mestrado de aulas referentes á composição de quadro, equilíbrio formal, fotografia deslumbrante, a posição da câmera cuidadosamente planejada, o equilíbrio de elementos traduzidos na tela. Yimou é um artista como poucos. Talvez por isso tenha atraído tanta ira quando deixou de lado alguns temas orientais e debruçou-se sobre uma linguagem mais “universal”. Para muitos, a visão do amor que ele apresenta em “O Caminho para Casa” é uma deturpação e uma estereotipação de valores orientais para agradar ao ocidente. E daí, p....? Há algo mais imbecil do que críticos querendo definir baseado em suas idéias os rumos da carreira de um realizador – principalmente um de tamanho apuro visual quando Yimou?



Não vou mencionar os prêmios que “O Caminho para Casa” acumulou desde que foi lançado. Yimou ensaia o uso simbólico da paleta de cores que ele endeusou de forma absurda na obra-prima “Herói” quatro anos depois, mas sem o uso semiótico do significado das cores. Preferiu ser mais simples: aqui, o presente é apresentado em preto e branco, e a estória que ele busca no passado é convertida em cores esfuziantes – traduz a riqueza de sentidos a nostalgia preservada, a alegria em contrapartida à tristeza do tempo presente.

A história singela mostra o filho adulto que volta á pequena aldeia onde nasceu: seu pai morreu, e a mãe quer honrar uma antiga tradição e trazê-lo em um cortejo a pé de quilômetros. Os anciãos querem demovê-la da idéia. O filho relembra a história de como seus pais se conheceram: é a chave para entender a devoção de sua mãe e a necessidade de que o pai percorra, pela última vez, a estrada que criou a história de amor entre os dois.

O romance que conduz essa estória atemporal – e sem nacionalidade ou língua – não se concretiza no contato entre os corpos: ela emociona pela devoção através dos dias, das tempestades, da solidão, da espera constante. Se resume no desespero em encontrar um objeto perdido pelo caminho, em reconstruir uma singela vasilha de comida com um significado especial. Zhang Yimou fala uma língua universal que tem um apelo maior para quem já viveu ou sonha viver um grande amor. “O Caminho para Casa” é a sua declaração de amor, belíssima, a essa simples possibilidade. Maravilhoso.

Noites de Tormenta

Escrito por Fábio Rockenbach

(Nights in Rodanthe, 2008)
Direção de George C. Wolfe, com Diane Lane, Richard Gere, Christopher Meloni



Se existe uma verdade incontestável em “Noites de Tormenta” é esta: no pobre e atrasado Equador pode faltar luz, água potável, rede de esgotos e remédios em hospitais no meio da selva, mas o correio.... ah, o correio funciona que é uma beleza. Todos os anos você encontrará um filme como “Nights in Rodanthe”. Ele é cuidadosamente arquitetado, montado cirurgicamente – por mãos não necessariamente habilidosas – para ser apreciado e digerido por um tipo de público: aquele que não dá a mínima para a lógica, para clichês descarados ou para o imediatismo das reações e relações. Interessa a ele o resultado final, interessa ver logo aquilo que todos sabem que acontecerão, e interessa a ele, inevitavelmente, esperar por aquele elemento imprescindível desse tipo de filme: o trágico, mecanismo final para que lágrimas comecem a rolar. Menos mal que “Noites de Tormenta”, mesmo abusando desses artifícios, o faça com um casal de protagonistas que conseguem a honra de tornar assistível uma história que sob outros rostos poderia ser sessão de sábado em TV aberta.

É a terceira dobradinha entre Diane Lane – uma das melhores e mais sub-aproveitadas atrizes de sua geração pós 40 anos – e Richard Gere, que parece finalmente estar se tornando humano para as mulheres ( “Nossa, agora ele está parecendo velho” foi o comentário que voou ao meu lado no cinema logo na primeira aparição do eterno gigolô americano). A dupla já dividiu a tela em Cotton Club ( quando Lane ainda era apenas uma carinha bonita sem expressão ) e em “Infidelidade” ( quando Lane já não era apenas uma carinha bonita sem expressão, a tal ponto de ter sido indicada ao Oscar ). Os dois são o reflexo no espelho da geração que ainda busca alguma história de amor mal resolvida no passado. Daquela geração que procura provas de que ainda pode viver uma história avassaladora na meia idade. A relação entre a mãe de família divorciada, às voltas com o marido que quer voltar para casa, e do médico em crise familiar com o filho, é exatamente esse tipo de reflexo. Os clichês são muitos. Os dois são hospedeira temporária e hóspede único de um hotel à beira do mar, prestes a ser alvo de um furacão na costa dos Estados Unidos. O furacão seria uma metáfora para as transformações e dificuldades que os dois precisam encarar em suas vidas. Bobagem, tanto quanto os cavalos que nunca surgem naquele lado da praia – o momento mais constrangedoramente artificial do filme.

Se há algo que valha a pena em “Noites de Tormenta” é ver Diane Lane em ação. Ela é como vinho: fica melhor à medida que passam os anos – e provou isso também em “Sob o Sol da Toscana”. Aos que buscam serem manipulados, o barco está atracado: é só entrar e se deixar levar pelo mar. Sempre há aqueles que gostam disso, e não sou eu que vou criticar – até porque o produto aqui vende o que promete.