Harryhausen é eterno

Escrito por Fábio Rockenbach

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Quem coleciona filmes precisa, desde o início, pensar em algumas questões logísticas: a idéia é criar uma coleção de respeito, como uma biblioteca, ou apenas um pequeno amontoado de DVDs guardados na estante da sala? Se a escolha é pela primeira opção, existe espaço para essa coleção respeitável ou por hora ele é limitado?

No meu caso, é limitado. Desde o início priorizei títulos mais difíceis de se achar a qualquer momento em alguma locadora. Mesmo assim, depois de 8 anos, quase mil filmes se tornaram um estorvo. Falta espaço.

O lado bom é que, como diz um conhecido, “sou eu quem escolhe, define a programação e assisto à meu canal particular de filmes”. Tenho programado para mim mesmo algumas “sessões” específicas de alguns temas. Para algumas delas, estou buscando filmes que não tenho - e a internet é ótima para isso. Tenho 3 conhecidos, um aqui no estado e outros 2 no Paraná, com quem costumo gastar alguma grana mensal nos correios trocando raridades. A busca da hora é pelo “Manuscrito de Saragoça”, filme polonês doido dos anos 60, e dois filmes de terror mais obscuros, “Haxan”, da década de 20, e um filme russo chamado “Vij - O Espírito do Mal”. Está difícil.

Mas a sessão do próximo final de semana está programada - trabalhando 14 horas por dia, meu programa no final de semana tem sido me largar em frente à TV, deitado no sofá. O ciclo de filmes de terror dos anos 60 e 70 está engatilhado, mas vi um vídeo no YouTube no final de semana sobre Ray Harryhausen e me bateu aquela saudade dos bons filmes de monstros criados com a ajuda desse mestre.

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“Sinbad e o Olho do Tigre” é o que mais me marcou a infância, apesar de que “Jasão e o Velo de Ouro” ( as duas cenas acima ) , e aquela cena da luta contra os esqueletos, ser meio icônica para Harryhausen. O gigante de bronze Talos, da ilha dos Deuses, despertado pela inconseqüência de Hércules, já foi considerada a melhor criação do stop-motion da história do cinema. A perseguição do gigante de bronze aos argonautas na praia e no mar é uma das cenas mais famosas do filme, outro pilar na carreira de HarryHausen.

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Os dois formam com “Fúria de Titãs”, meu preferido de sempre, a trilogia básica, algo como “conheça Harryhausen em 4 horas e meia”. “Fúria de Titãs” ( acima, a Medusa criada por Harryhausen, protagonista da mais tensa cena do filme) apresenta Laurence Olivier como Zeus, Maggie Smith como Thetis e traz o último dos Titãs, Pégasus, o unicórnio alado, as irmãs bruxas, escorpiões gigantes e corujas mecânicas (!!). É o sopro derradeiro de harryhausen, já nos anos 80, e jóia demais de assistir. Está com uma refilmagem sendo concluída nesse exato momento, com tudo para ser um filmaço se respeitar a diegética desse tipo de filme, que as produções de antigamente conseguiam fazer como nenhuma outra.

Fã dos trabalhos de Willis O’Brien em King Kong (1933), Harryhausen, nascido em 1921, se tornou a referência maior na criação de monstros, criaturas e efeitos especiais animadas por stop-motion em todo o século do cinema. Um cavalo alado, um cíclope, uma estátua de bronze gigante, uma medusa, monstros mitológicos, aves gigantescas, dinossauros, tigres dentes-de-sabre, polvos gigantescos destruindo a ponte golden gate, tudo o que se pudesse imaginar durante 40 anos no cinema americano, B ou A, ganhou vida pelo talento de Harryhausen, em tempos sem CGI ou computadores criando mundos e criaturas impossíveis. Tudo era no braço, moldados e animados por Ray.

Além deles, tenho “The 7th Voyage of Sinbad”, que considero (muito) fraco em comparação aos outros, e pérolas do cinema de horror e ficção dos anos 50: “O Monstro do mar Revolto”, “Mil Séculos Antes de cristo”, “A Ilha Misteriosa”. Todos eles deliciosos, dentro daquele contexto de monstros destruidores em animações quadro-a-quadro que fazem a delícia dos saudosistas, madrugada adentro. Mais autênticos na sua ingenuidade do que os filmes de monstro da atualidade.

Harryhausen, aos 88 anos, está vivinho. Merece homengens em vida - não que ele não seja reconhecido e lembrado constantemente. Talvez Miike tenha que esperar ainda mais. Harryhausen está batendo à porta para voltar no final de semana lá em casa… “Sinbad e o Olho do Tigre”, “Jasão e os Velocino de Ouro” e “Fúria de Titãs” deverão ser a diversão do fim de semana, à base de pipoca e refrigerante. Se chover, melhor ainda…

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