Um Golpe à Italiana

Escrito por Fábio Rockenbach

(The Italian Job, EUA, 1969 )
Direção de Peter Collison, com Micharl Caine, Noel Coward, Raf Vallone, Benny Hill, Rossano Braz




Se você assistiu “Uma Saída de Mestre” com Mark Whalberg, Charlize Theron e Edward Norton e ficou curioso para conhecer o original “Um Golpe à Italiana”, com Michael Caine, esteja bem ciente que a refilmagem de 2003 puxou apenas a idéia de um golpe realizado na Itália e o uso das Mini Coopers na fuga. E só. “Um Golpe à Italiana” é, acima de tudo, uma diversão ligeira, uma comédia com toques de noonsense embalada pelo típico ritmo da época. Não tenta ser séria, não prima pela atenção aos mínimos detalhes do suntuoso golpe que dá título ao filme. Na verdade, não quer essa seriedade. Exala um charme próprio do início ao fim, sempre conduzido por um Michael Caine nitidamente se divertindo à beça com seu personagem – e tem como coadjuvante de luxo um Noel Coward impagável como um lorde britânico expert em patrocinar grandes golpes, preso (?!) em uma penitenciária nos Estados Unidos, de olho em todos os movimentos do trabalho patrocinado por ele na Itália.


Em alguns momentos, a completa inverossimilhança de algumas situações beira o ridículo, mas o desenrolar da ação mostra, aos poucos, que tudo é uma grande brincadeira. O trabalho em questão é roubar quatro milhões de dólares transportados por um comboio da Fiat em Turim. Para isso, o grande grupo de simpáticos trapaceiros comandados por Charlie Croker (Caine) investe em sabotar o sistema de tráfego de Turim, driblar os olhos atentos da Máfia italiana e se empenhar em uma rota de fuga maluca que tem tudo para dar errado, mas como não poderia deixar de ser, se transforma na grande graça do filme. É na meia hora final que “Um Golpe à Italiana” justifica toda a atenção que captura do espectador – apesar de o filme inteiro ser orquestrado em torno do golpe, a maior parte dele é gasta na construção de seus personagens e na apresentação do que se configura como uma grande brincadeira, uma diversão, apesar de ser o “grande golpe do século XX”. A presença da máfia como oposição ao grupo poderia ser melhor explorada no momento do golpe e o noonsense de algumas situações pode acabar atrapalhando um pouco – em determinados momentos, as tiradas cômicas acabam ficando deslocadas – mas mesmo isso não tira o sorriso em ver Noel Coward regozijando-se na prisão, aplaudido até por guardas, após o trabalho bem realizado. A fuga em si, se não tem a edição tresloucada da refilmagem, é uma diversão só, apesar de ter algumas seqüências completamente sem sentido, reforçando o sentido de uma grande brincadeira com ( e para ) o espectador.


Tudo termina no embalo irônico de “This is the self-preservation society” e um final simplesmente genial – que ainda motiva algumas discussões sobre o que terá, afinal, acontecido. Esses 5 minutos finais são tão geniais que, sozinho, compensa as falhas de um roteiro com argumento brilhante mas furos óbvios. É preciso ver para crer, mas a última frase de Croker no filme, e o insólito de sua situação deveriam ser mais lembrados como uma das grandes cenas do cinema. Termina “Um Golpe à Italiana” de forma magistral, e é impossível não sorrir quando sobem os créditos. O cinema, definitivamente, é muito divertido quando não se leva a sério.

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