O Exército Inútil

Escrito por Victor Barreto

(Streamers, EUA, 1983
De Robert Altman, com Matthew Modine, David Alan Grier, Mitchell Lichtenstein, Michael Wright, Guy Boyd e George Dzundza


Este filme se passa inteiramente dentro de um quartel de soldados às vesperas de viajar pro Vietnã. Existem apenas alguns momentos da parte externa do alojamento mostrados, mas mesmo esses são filmados de dentro, e isso criou uma atmosfera angustiante, levemente claustrofóbica, casando com o drama enfrentado pelas personagens.

A história foca-se em seis homens, dois oficiais superiores que estão sempre bêbados, e quatro recrutas, os quais entram em conflito por suas crenças e preconceitos, e os temas variam desde homofobia até diferenças de classes. Desta vez, o artifício utilizado por Altman para dar abrangência à história foi o aspecto teatral de todos os elementos, em especial o texto (e o fato do filme ser baseado em uma peça provavelmente contribuiu para isso). A crítica do diretor não serve apenas para a época do Vietnã, mas a qualquer guerra, mostrando o despreparo emocional no qual se encontram aqueles que enfrentarão a mais cruel situação a que um homem pode ser submetido, e teoricamente deveriam ser preparados para isso. O próprio título original já é uma metáfora disso, Streamers seriam os "charutos", pára-quedas que não abrem e portanto estão condenados (e a cena onde um dos generais relembra esta situação que literalmente ocorreu quando estava na guerra da Coréia é uma das mais poderosas do filme, o desconforto é estampado sutilmente na cara dos soldados quando o escutam).

Apesar da ótima direção (câmera sempre em movimento, buscando ilustrar a narrativa visualmente), o maior triunfo deste filme é seu elenco, laureado com o prêmio de Melhor Ator em Veneza. Matthew Modine surpreende em suas expressões, jamais descobrimos sua verdadeira opção sexual, mas no entanto sentimos o tormento dentro de sua mente por ter preconceitos originados de sua educação. Já Mitchell Lichtenstein tem uma postura claramente homossexual, mas surpreende seus companheiros ao revelar isso, e incrivelmente nos faz ter dúvidas quanto a verdade. E Michael Wright é o mais instável de todos, e faz a sua simples presença ser ameaçadora. David Alan Grier, Guy Boyd e George Dzundza completam o elenco, todos funcionam muito bem em seus respectivos papéis.

Pecando apenas no seu ritmo maçante, este é uma das muitas jóias escondidas do Altman (e é triste não saber se ainda há rolos disponíveis do filme no mundo).

2 Comentários:

  1. Fábio Rockenbach disse...

    Seria um Altman voltando ao universo de M.A.S.H.? Confesso que não conhecia o filme - e pelo jeito tão cedo não vai dar pra conhecer

  2. Victor Barreto disse...

    Fábio, talvez não seja difícil assistí-lo não, por incrível que pareça o filme já foi lançado em DVD por aqui, mas em foolscreen. Aliás a sessão deste filme foi gratuíta, justamente porque era digital (como disse, não sabem se há rolos do filme no mundo).
    E não, o tom do filme é bem diferente de M*A*S*H*, o clima é muito mais denso. São propostas diferentes, o que comprova a versatilidade do Altman.